Projeto visa criar estratégias de imunoterapia mais eficazes contra cancro colorretal

10 de Fevereiro 2025

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) lideram um projeto que, através da glicoengenharia, pretende criar estratégias de imunoterapia mais eficazes contra o cancro colorretal, foi hoje revelado.

A investigação vai concentrar-se em “superar as principais limitações da imunoterapia”, especialmente em tumores sólidos, com o propósito de conseguir que este tratamento seja usado para combater tumores malignos, refere, em comunicado, o i3S.

A imunoterapia baseia-se na estimulação das células do sistema imune – linfócitos T – para as tornar “mais eficazes no combate às células tumorais”, ao contrário da quimioterapia e radioterapia, que atacam as células malignas e muitas vezes as células saudáveis em redor.

“Apesar de nos últimos anos a imunoterapia ter revolucionado o tratamento do cancro, existe uma percentagem significativa de doentes com cancro que ainda não responde a estes tratamentos, sobretudo quando se trata de tumores sólidos”, indica o instituto.

Citada no comunicado, a investigadora Salomé Pinho afirma que, no caso do cancro colorretal “apenas uma minoria de doentes (4 a 5%) beneficia da imunoterapia e, mesmo assim, nem todos os doentes respondem”.

Face à necessidade de alargar este tratamento a um maior número de cancros, a equipa liderada por Salomé Pinho vai estudar “de que forma os glicanos [estruturas complexas de açúcares] à superfície das células T poderão atuar como um novo mecanismo de regulação que estimule a atividade destas células do sistema imune no combate ao cancro”.

Combinando amostras de doentes com cancro colorretal e abordagens ‘in vitro’ e ‘in vivo’, os investigadores vão estudar “o poder da glicoengenharia dos linfócitos T como uma nova estratégia para potenciar a sua eficácia contra o cancro”.

“Vamos estudar como e por que razão ocorrem alterações na composição dos glicanos das células T ao longo do desenvolvimento do cancro colorretal, desde condições pré-malignas até ao cancro, explorando como estas alterações da glicosilação travam a ação das células T na lutra contra o tumor”, esclarece Salomé Pinho.

Segundo a investigadora, a longo prazo, o objetivo é modular os glicanos das células T para aumentar a atividade antitumoral dos linfócitos T e, consequentemente, a eficácia da imunoterapia celular.

A investigação, que conta com a participação de cientistas dos Estados Unidos, Alemanha e Suiça, será desenvolvida em colaboração com o serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto e do IPO-Porto.

O projeto é financiado pela Fundação Mizutani para a Glicociencia, organização japonesa sem fins lucrativos criada em 1992 e dedicada à promoção de estudos de investigação para descodificação do papel dos glicanos e da glicobiologia.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights