Bombeiros param ambulâncias protocoladas com INEM no distrito do Porto

13 de Novembro 2020

Vinte e cinco ambulâncias usadas por corporações de bombeiros do distrito do Porto em protocolo com o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) vão ficar paradas, mas o socorro às pessoas não será comprometido, foi hoje garantido.

A decisão foi confirmada aos jornalistas pelos comandantes de bombeiros de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, e de Coimbrões, Vila Nova de Gaia, Gilberto Gonçalves e Luís Araújo, respetivamente, à saída de uma reunião com o INEM, no Porto.

“A tomada de posição mantém-se e é não usar as ambulâncias protocoladas com o INEM. Mas nunca, nunca, iremos pôr o socorro em causa”, disse Luís Araújo aos jornalistas, enquanto ao lado Gilberto Gonçalves apontou que “a reunião com o INEM surtiu numa mão cheia de nada”, mostrando-se “confiante” de que as preocupações serão “encaminhadas” à tutela pelo responsável da delegação do Porto.

Trinta e três das 45 corporações de bombeiros do distrito do Porto entregaram hoje “simbolicamente” as chaves das ambulâncias ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) de forma a alertar para as dificuldades logísticas e financeiras do setor.

“A situação é insustentável e coloca em causa a emergência médica. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) não tem apoiado com a quantidade suficiente nos equipamentos de proteção individual (EPIs). Estamos ao serviço do Estado e não estamos protegidos, nem conseguimos proteger as populações”, disse o comandante dos Bombeiros Voluntários (BV) de Paredes, José Morais, antes dos colegas de Coimbrões e de S. Mamede de infesta terem reunido com o responsável do INEM no Porto.

Estas corporações usam ambulâncias próprias (as vermelhas) e ambulâncias Posto de Emergência Médica (PEM) que são ambulâncias protocoladas com o INEM (amarelas).

Cada corporação tem “entre uma a duas” ambulâncias PEM e “um número mais vasto e variável” de ambulâncias próprias.

Sobre as PEM foi divulgado hoje, num comunicado distribuído à imprensa que “as associações signatárias manterão as ambulâncias INEM inoperativas por falta de EPIs, cuja responsabilidade de apoio e entrega é do Estado através do INEM e da ANEPC”.

Em causa estão EPIs necessários devido à pandemia da covid-19, sendo que os transportes urgentes efetuados por estes bombeiros estão a ser todos tratados como suspeitos covid-19 positivos.

Esta decisão deve-se quer por falta de EPIs, quer para chamar a atenção para a necessidade de atualizar os acordos de colaboração celebrados em 2012 entre INEM, ANEPC e Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), os quais “não cobrem atualmente os custos reais dos consumíveis que o próprio instituto exige”, dizem os bombeiros do distrito do Porto.

Sobre esta matéria, o médico responsável pela delegação regional do Norte do INEM, António Barbosa, disse aos jornalistas que decorre reuniões com INEM, ANEPC e LBP para revisão dos protocolos, mas não precisou quando existirá uma decisão por esta depender das estruturas centrais.

“É verdade que os protocolos estão a ser revistos. É verdade que já têm alguns anos e que as necessidades estão diferentes. E também é verdade que a circunstância que vivemos hoje em dia é particularmente importante para agudizar os problemas que até já existiriam de base”, referiu António Barbosa que sobre a distribuição dos EPIs disse tratar-se de uma “responsabilidade da ANEPC”.

“Estamos sensíveis a todas as dificuldades que as instituições passam. O Instituto também as tem. Não encaramos esta ação de forma leviana nem a desvalorizamos”, referiu o médico responsável pela delegação regional do Norte do INEM, deixando o apelo para que “o socorro seja sempre salvaguardado pelas instituições”.

Já num comunicado publicado hoje na página do INEM na Internet lê-se que quer esta entidade, quer a LBP, quer a ANEPC “iniciaram formalmente [em outubro] os trabalhos de revisão do acordo de cooperação em vigor entre estas entidades, nomeadamente nos aspetos relacionados com o socorro pré-hospitalar e a operacionalização dos Postos de Emergência Médica (PEM) e Postos Reserva nos Corpos de Bombeiros (CB)”.

“Este trabalho, que inclui a análise ao atual modelo de financiamento, está em curso (…) foram já realizadas cinco reuniões, estando agendadas mais duas para a próxima semana”, lê-se no comunicado.

Já a ANEPC remeteu à agência Lusa uma informação com data de 06 de novembro, na qual se lê que “partir de 19 de março deu-se inicio à distribuição de EPIs por todos os corpos de bombeiros do país, distribuição essa que tem sido periodicamente renovada, tendo sido na semana passada distribuídos mais um lote de 31.000 peças de equipamento, ao longo de todo o país”.

Contactado pela Lusa, o Ministério da Administração Interna remeteu esclarecimentos para a ANEPC.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,29 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 3.250 em Portugal.

LUSA/HN

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