Vacinação só deverá começar a partir de abril em África

31 de Dezembro 2020

O diretor do África CDC, John Nkengasong, estimou esta quinta-feira que a vacinação para a Covid-19 no continente comece apenas em abril de 2021, apontando dificuldades de financiamento e disponibilidade de vacinas.

“Não devemos esperar ter a vacinação em África em janeiro ou fevereiro, apenas no segundo trimestre, a partir de abril, começaremos a ver programas de vacinação no continente”, disse o diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) na conferência de imprensa semanal sobre a pandemia em África.

John Nkengasong adiantou que os principais desafios estão relacionados com a escassez de doses das vacinas disponíveis e com o financiamento necessário para implementar a abordagem de não deixar nenhum país para trás neste processo.

Para atingir o objetivo de vacinar pelo menos 60% da população, África precisará de cerca de 1,5 mil milhões de doses de vacinas que, segundo as estimativas atuais, poderiam custar entre 8 mil milhões e 16 mil milhões de dólares, com custos adicionais de 20-30% para a entrega.

O programa de vacinação da iniciativa Covax, lançada pela OMS para a distribuição justa de vacinas, prevê distribuir pelo menos dois mil milhões de doses até ao final de 2021 de forma a imunizar 20% das pessoas mais vulneráveis em 91 países pobres, principalmente em África, na Ásia e na América Latina.

No entanto, relatórios internos da organização divulgados pela comunicação social, apontam um “elevado risco” de fracasso, estimando-se que possa deixar milhões de pessoas sem acesso às vacinas até 2024 nestes países.

“Continuamos confiantes de que a cooperação e a solidariedade internacional irão prevalecer. Não há absolutamente nenhuma racionalidade ética e moral em os países ricos comprarem vacinas em excesso e esperarem para vacinar toda a sua população antes de África ter acesso às vacinas”, sustentou John Nkengasong.

Questionado pela agência Lusa sobre se este calendário significa que o continente africano foi remetido para o fim da fila do acesso às vacinas, o diretor do África CDC sublinhou a urgência do início da vacinação.

“A segunda vaga da pandemia está aí. Não podemos adiar, precisamos dessas vacinas e precisamos delas agora, o mais cedo possível em 2021”, disse.

“A maioria dos países compraram mais vacinas do que precisam. Não podemos entrar numa crise moral com as vacinas presas nos países desenvolvidos quando África está a ter dificuldades em consegui-las”, acrescentou.

John Nkengasong assinalou que a mortalidade e o número de infeções por Covid-19 no continente está a aumentar “muito rapidamente” nesta segunda vaga e que um atraso no processo de vacinação poderá tornar o novo coronavírus endémico, tornando “extremamente difícil” de gerir várias pandemias, incluindo a malária, HIV.

“A última coisa que precisamos é uma pandemia como a de CCovid-19 no continente numa perspetiva de longo prazo”, disse, acrescentando que “toda a conversa da solidariedade internacional tem de ser traduzida em ação”.

John Nkengasong disse que a União Africana está a negociar a vacina da BioNTech/Pfizer, adiantando que apesar das exigentes condições de armazenamento desta vacina (-70 graus), o continente não pode esperar pela aprovação das da AstraZeneca/Oxford ou Johnson & Johnson, que segundos dados disponíveis terão condições menos exigentes de conservação.

“Devemos avançar com as vacinas que tivermos. Não acreditamos que qualquer delas seja suficiente para vacinar toda a população. Tem de ser uma combinação de todas”, disse.

Por isso, a estratégia para a introdução da vacina da BioNTech/Pfizer começará pelas grandes cidades, onde existe fornecimento de energia mais fiável do que nas zonas rurais.

“Seria ótimo ter a vacina da AstraZeneca/Oxford e também aguardamos a aprovação da da Johnson & Johnson, que com apenas uma dose permitiria chegar a zonas remotas e ultrapassar muitos dos constrangimentos logísticos, mas não podemos esperar”, disse.

África registou mais 693 mortes nas últimas 24 horas devido à Covid-19, para um total de 64.760 desde o início da pandemia, e 30.262 novos casos de infeção com o vírus SARS-CoV-2, segundo dados oficiais.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o continente africano regista agora 2.727.345 infetados.

O número de recuperados nas últimas 24 horas foi de 23.327 para um total de 2.279.397

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This