A Guiné-Conacri declarou em 14 de fevereiro o primeiro surto de Ébola no país após cinco anos, que já resultou na morte de cinco pessoas.
O anterior surto, que surgiu em finais de 2013 na Guiné-Conacri, alastrou posteriormente aos vizinhos Libéria e Serra Leoa, tendo causado mais de 11.300 mortos, 2.500 dos quais na Guiné-Conacri.
“Não é de todo provável que venha a existir uma situação semelhante porque agora tanto a Guiné-Conacri como a Libéria e a Serra Leoa adquiriram recursos para a prevenção e o controlo da infeção”, disse a diretora regional para África da OMS, Matshidiso Moeti, em conferência de imprensa.
“Todas as disposições para a vacinação estão em vigor e as vacinas já estão registadas na Guiné-Conacri. Esperamos que a experiência da epidemia anterior seja de grande utilidade para nós agora. Desta vez podemos dizer que estamos preparados”, disse, por seu lado, Mohamed Lamine Yansane, conselheiro do Ministério da Saúde da Guiné-Conacri.
Além deste primeiro carregamento de vacinas enviado de Genebra, um outro de 8.600 doses chegará posteriormente dos Estados Unidos, disse Moeti.
A OMS enviou pelo menos 30 peritos de vacinação para aquele país da África Ocidental e outros 20 para a República Democrática do Congo (RDCongo), onde a campanha de vacinação foi oficialmente lançada em 15 de fevereiro, na sequência do surgimento do 12.º surto de Ébola no nordeste do país, em 07 de fevereiro.
De acordo com os últimos dados da OMS e das autoridades nacionais, o número de mortes de Ébola na Guiné-Conacri é agora de cinco pessoas (uma confirmada e quatro prováveis) de um total de sete casos, enquanto que na RDCongo já foram confirmados quatro casos, incluindo duas mortes.
Dados avançados hoje pelo Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) apontam, contudo, oito casos confirmados de Ébola e seis prováveis na região de N’Zerekore e um caso na capital, Conacri.
Foram ainda identificados 125 contactos, 10 dos quais estão a ser monitorizados.
Na República Democrática do Congo, o África CDC fala de quatro casos confirmados, duas mortes e 369 contactos identificados, 326 dos quais estão a ser monitorizados.
Numa outra conferência, o diretor do África CDC, John Nkengasong, admitiu que “existe um sério risco” de o Ébola se propagar a outros países da África Ocidental porque “os locais onde foram identificados casos concentram muito movimento de pessoas”.
Contudo, Nkengasong salientou que “o conhecimento das populações e a preparação do pessoal de saúde são hoje muito melhores do que há cinco anos”.
A região está mais bem equipada e “já não começa do zero”, acrescentou.
Vários países da África Ocidental, como a Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Guiné-Bissau, já foram postos em alerta para impedir a propagação da doença nos seus territórios.
As autoridades de Saúde guineenses anunciaram na quarta-feira que o plano de prevenção para o Ébola, elaborado em 2014, vai ser atualizado, tendo em conta que faz fronteira com a Guiné-Conacri.
A OMS em Genebra afirmou hoje que o risco de uma epidemia de Ébola nos países da África Ocidental é “elevado” devido à dimensão, duração e origens desconhecidas do atual surto, e também devido à limitada capacidade de resposta no terreno.
A Cruz Vermelha Internacional anunciou na segunda-feira que ativou uma rede de mais de 700 voluntários treinados para travar o surto na Guiné-Conacri, onde não tinha sido detetada nenhuma infeção pelo Ébola desde o fim da grande epidemia que abalou a África Ocidental entre 2014 e 2016.
O que foi a pior epidemia de Ébola da história surgiu no país no final de 2013, matando 11.300 pessoas e infetando mais de 28.500 outras, embora estes números, admite a Organização Mundial de Saúde (OMS), possam ser conservadores.
O vírus Ébola, que provoca febres altas, vómitos e diarreias, foi identificado pela primeira vez em 1976 na RDCongo e deve o seu nome a um rio no norte do país, perto do qual teve origem o primeiro surto.
O Ébola é transmitido entre humanos através de fluidos corporais como sangue ou fezes e tem uma taxa de letalidade muito elevada, que varia entre 50% e 90%, de acordo com a OMS.
Uma primeira vacina do Ébola, fabricada pelo grupo americano Merck Shape e Dohme, provou ser altamente protetora contra o vírus, num grande ensaio realizado na Guiné-Conacri em 2015.
Esta vacina, pré-qualificada em novembro de 2019 pela OMS para licenciamento, foi utilizada em mais de 300.000 doses numa campanha de vacinação orientada durante o último surto na RDCongo.
Uma segunda vacina experimental, dos laboratórios norte-americanos Johnson&Johnson, foi introduzida em outubro de 2019 como medida preventiva em áreas onde o vírus está ausente, e mais de 20.000 pessoas foram vacinadas.
Lusa/HN
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