Graça Freitas admite cenário de nova escalada da pandemia em Portugal mesmo com campanha de vacinação

4 de Março 2021

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que Portugal pode voltar a enfrentar uma nova vaga da pandemia de Covid-19 nos próximos meses, mesmo com a atual campanha de vacinação em curso.

“Uma nova escalada do vírus está em cima da mesa, mesmo com a vacina”, reconheceu Graça Freitas, numa entrevista à RTP3, sublinhando: “O vírus sofre mutações. Não estamos livres disso, apesar da vacina. E não sabemos quanto tempo vai durar a imunidade, se vai proteger contra novas variantes ou como vai funcionar a imunidade natural”.

Questionada sobre os critérios de avaliação que devem orientar a definição do plano de desconfinamento, Graça Freitas realçou a diversidade de metodologias adotadas entre os países e salientou que não existe uma “receita” única pela qual todos podem copiar. Porém, não deixou de apontar a primazia de quatro critérios.

“Os quatro indicadores que estão a ser mais ponderados – e que não excluem outros – são: incidência cumulativa a 14 dias, taxa de positividade, ocupação de camas em unidades de cuidados intensivos e o Rt [índice de transmissibilidade]”, frisou. A este nível, sublinhou que Portugal está com um Rt “baixo” e com “uma taxa de positividade inferior a 4%”, mas relembrou a situação preocupante em internamentos e confessou que é ainda preciso “baixar um bocadinho” a incidência.

“Temos de consolidar todos estes valores e esperar ainda que alguns deles melhorem. Gostaríamos que a incidência baixasse mais para termos mais conforto. É preciso ter alguma cautela. Estes desconfinamentos nos outros países também estão a ser faseados”, notou.

Entre as maiores preocupações do confinamento está o encerramento das escolas e as consequências que esta situação pode ter nos alunos, com Graça Freitas a vincar que “a cautela aconselharia a que fosse uma abertura faseada, começando pelos graus de ensino com alunos mais novos”, embora tenha assinalado que não é uma decisão da sua responsabilidade.

A responsável da DGS assegurou que está previsto o arranque da testagem nas escolas com a retoma das atividades letivas e que os rastreios podem ser alargados em função do que for encontrado, mas deixou uma mensagem aos especialistas que defendem a testagem maciça como a solução para o combate à pandemia: “Os testes não são tratamentos nem vacinas”.

Já sobre a vacinação, Graça Freitas reconheceu que “o primeiro trimestre vai ficar aquém das expectativas”, por força da falta de disponibilidade de vacinas, mas mostrou esperança no cumprimento da meta de 70% da população do país vacinada até final de agosto. Quanto a um eventual alargamento da utilização da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 65 anos, a diretora-geral da Saúde não exclui a revisão que já está a avançar em alguns países.

“À medida que vamos tendo mais informação de outros países, não o pomos de parte, porque permite vacinar mais rapidamente grupos mais velhos”, disse.

Depois de passar em revista um ano de pandemia no país, que considerou ter sido “muito intenso” e “trágico”, durante o qual assumiu ter tido “momentos” em que pensou em desistir, Graça Freitas lamentou os “números açambarcadores” de mais de 16 mil mortos e 800 mil casos associados à Covid-19, em especial o drama vivido no último mês de janeiro, em que Portugal bateu máximos de óbitos e infeções.

“Aconteceu uma avalanche. Juntaram-se alguns fatores importantes e, por vezes, não se consegue prever a sinergia dos fatores. Tínhamos uma nova variante a circular, que aumenta a velocidade de propagação, estávamos no inverno e tivemos temperaturas extremamente frias, mas não havia uma previsão com uma dimensão destas. O que esperaríamos era uma terceira onda um bocadinho maior do que a segunda. O rasto que deixou é devastador”, concluiu.

Em Portugal, morreram 16.430 pessoas dos 806.626 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

IPO Lisboa nomeia Graça Freitas provedora do utente

A presidente do conselho de administração do Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO Lisboa), Eva Falcão, anunciou hoje que a antiga diretora-geral da Saúde Graça Freitas vai ser a provedora do utente daquela unidade hospitalar

Psicólogos escolhem hoje novo bastonário

Mais de 21 mil psicólogos elegem hoje um novo bastonário, numas eleições que contam com três candidatos ao cargo desempenhado desde dezembro de 2016 por Francisco Miranda Rodrigues, que não concorre a um novo mandato.

Europa recomenda reembolso de aplicações digitais de saúde

 A União Europeia (UE) propôs que todos os países membros implementem um sistema que permita o reembolso de aplicações e dispositivos médicos digitais, em resposta ao crescente uso de tecnologias de saúde. 

MAIS LIDAS

Share This