No dia em que se comemora o Dia Mundial do Sono, Marta Drummond, que dirige o Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Sono e Ventilação não Invasiva (VNI) do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, descreveu à agência Lusa os sintomas, tratamentos e principais riscos de patologias, cuja prevalência tem vindo a aumentar nas últimas décadas.
“Os riscos destas doenças são muito importantes para a sociedade e têm impacto na qualidade de vida dos doentes. São um problema de saúde pública porque quem anda na estrada, seja como peão ou condutor, está sujeito aos riscos das pessoas que adormecem ao volante. Há ainda o risco de doença cardiovascular e cerebrovascular, entre outros. Mas estas doenças, depois de diagnosticadas, têm um tratamento eficaz. E se temos um tratamento eficaz, temos de ser rápidos no diagnóstico e na instituição do tratamento”, defendeu a especialista.
Entre as principais doenças associadas a patologias respiratórias está a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS).
Marta Drummond explicou que a SAOS se caracteriza por pausas respiratórias (por colapso da via aérea) que acontecem durante o sono, sendo que quem apresenta estes sintomas pode não ter memória de que teve um sono fragmentado e com despertares ao longo da noite, mas acorda cansado, pode apresentar menos memória, menos rentabilidade no trabalho e menos capacidade de concentração devido à falta de um sono reparador.
A SAOS também apresenta um impacto negativo na qualidade de vida dos doentes em virtude da hipersónia diurna (ter muito sono durante o dia), bem como porque está associada ao aumento dos níveis de ansiedade, risco de depressão, diminuição da libido e disfunção sexual.
À Lusa, a médica pneumologista do CHUSJ destacou os sintomas que não devem ser negligenciados, sobretudo porque, disse, “esta patologia significa um aumento de mortalidade”, sendo que “acontece mais a doentes de meia-idade [40 e 50 anos]”, ou seja, “pessoas produtivas para a sociedade e importantes para a sua família”.
“É a estes que temos de chegar rápido para evitar a mortalidade”, apontou a especialista.
Ressonar, sono excessivo durante o dia ou o relato de quem testemunha as tais pausas ou despertares durante a noite que não ficam na memória do doente, mas são percecionados pela esposa, marido ou companheiros de quarto, são sintomas.
“E depois dessa tríade de sintomas [roncopatia, pausas testemunhadas e sono], o humor e a ansiedade também dão sinais. Quando dormimos mal uma ou duas noites, o nosso humor não é o mesmo. Imaginemos doentes que durante anos têm este problema de sono não reparador: são muito mais ansiosos do que o habitual e com muita tendência à depressão”, preveniu Marta Drummond.
A também professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) alertou, ainda, para situações cada vez mais frequentes na sociedade atual que têm influência nestas patologias, como o facto de as pessoas cada vez mais dormirem sós, sem um companheiro, o que faz com que só tenha ‘feedback’ de como se desenvolve o seu sono quando, numa viagem com amigos, por exemplo, ouvem queixas sobre um ressonar alto com pausas a meio.
São também importantes fatores de risco “muito associados ao nosso estilo de vida atual, a epidemia de obesidade que o mundo ocidental atravessa e o envelhecimento populacional”, descreveu a médica.
“Estes dois fatores fizeram com que a prevalência destas doenças tenha vindo a aumentar enormemente. E estima-se que continue a aumentar nos próximos anos e décadas”, acrescentou.
Quando diagnosticadas – quer por referenciação do médico de família, quer por referenciação de outros especialidades dentro do hospital –, estas patologias são tratadas conforme a gravidade da apneia obstrutiva do sono.
O uso de suporte ventilatório noturno, um aparelho elétrico (compressor de ar) que retira ar do meio ambiente e o envia com mais pressão ao doente, originando uma almofada de ar que não permite o colapso da via aérea, é um dos tratamentos mais frequentes.
Já a um doente obeso e sedentário, com apneia de sono ligeira, aconselha-se perda de peso e exercício físico regular.
Também há quem tenha micrognatia – queixo mais pequeno ou retraído com diâmetro da via aérea mais estreito – tendo o CRI do CHUSJ conseguido uma comparticipação a 100% em próteses de avanço mandibular.
Criado a 01 de julho de 2020, em pleno período pandémico da Covid-19, o CRI do CHUSJ iniciou atividade com mais de 3.000 doentes em lista de espera e mais de dois anos a aguardar consulta.
Atualmente, são 900 os doentes em lista de espera, menos de nove meses para consulta e “a meta é chegar a menos de três meses de espera máximo até ao final deste ano”.
LUSA/HN
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