Diretor do Programa Nacional de Saúde Mental alerta para contratação de psicólogos nos centros de saúde

24 de Março 2021

O diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, Miguel Xavier, alertou esta quarta-feira para a necessidade contratar psicólogos para os centros de saúde para se poder concretizar o modelo de resposta não farmacológica à depressão e ansiedade.

Miguel Xavier, que hoje foi ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do Bloco de Esquerda, considerou o número de psicólogos nos cuidados de saúde primários “manifestamente insuficiente”, sublinhando que o modelo de resposta usado em Portugal é de articulação entre médicos de família, psicólogos, enfermeiros e psiquiatras.

“Este modelo precisa de gente dedicada do ponto de vista da psicologia nos centros de saúde”, considerou.

Questionado sobre articulação com os hospitais, Miguel Xavier disse que já há articulação entre cuidados hospitalares de psiquiatria e os cuidados de saúde primários, e que há “bons exemplos”, mas vincou que “não há um modelo implementado para a resposta não farmacológica para a depressão e ansiedade no nosso país”.

“E isto não vai lá com 40, 50 ou 60 psicólogos. É preciso muito mais gente”, afirmou o responsável, que disse reconhecer que estes profissionais não poderão entrar todos de uma vez, mas que terão de entrar de forma progressiva.

“Mas esta gente vai ser precisa para podermos dizer que temos este modelo implementado no nosso país, sem grandes assimetrias regionais, que é outro problema que me preocupa. Não é garantir que o modelo funciona em Lisboa, Porto e Coimbra e, depois, a restante região do país, como sempre, fica sem recursos”, acrescentou.

Sobre a criação de um “cheque psicólogo”, o responsável disse ser contra, sublinhando que o núcleo de funcionamento deve ser “a equipa multidisciplinar”.

“Os problemas de saúde mental são complexos e nenhuma classe por si só consegue responder à complexidade que têm estes problemas. Defendemos que o cerne do funcionamento devem ser as equipas multidisciplinares”, afirmou, insistindo: “Faltam psicólogos, mas também enfermeiros, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, nomeadamente numa fase em que os determinantes socioeconómicos são tão importantes”.

“Pensar que apenas com uma especialidade posso dar resposta é errado. Os psicólogos têm de ser contratados e recrutados para as várias instâncias do Serviço Nacional de Saúde, quer para serviços de psiquiatria, quer para os cuidados de saúde primários. O ‘cheque psicólogo’ não é o modelo em que o Programa Nacional para a Saúde Mental se revê”, acrescentou.

Sobre o que ficou por fazer na área da saúde mental nos últimos anos, Miguel Xavier afirmou: “tudo o que estava previsto em 2019 do ponto vista estrutural e ficaram por fazer as situações que envolvem o não cumprimento de direitos humanos dos doentes”.

“Temos em Portugal algumas situações em que os direitos humanos dos doentes não são cumpridos, a começar pela própria situação logística em que alguns se encontram. São situações que eu considero da maior prioridade, quer pela dignidade dos doentes, quer pela dignidade dos profissionais, quer pelo nome do nosso pais”, concluiu.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This