Países africanos devem utilizar “o mais cedo possível” vacinas que recebem, sublinha África CDC

22 de Abril 2021

Os países africanos devem utilizar vacinas que recebem “o mais cedo possível”, antes do prazo expirar, insistiu esta quinta-feira o diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong.

“Os países devem fazer todo o possível para utilizar rapidamente as vacinas disponíveis, cada vez que vacinam estão a reduzir o risco de morte da pessoa vacinada e a propagação do vírus”, sublinhou Nkengasong, em declarações na conferência de imprensa semanal da organização, a partir da sede da agência sanitária da União Africana (UA), em Adis Abeba, Etiópia.

Até 19 de abril, África adquiriu 36,2 milhões de doses de vacinas, das quais administrou 15 milhões, números que deixam os 55 Estados-membros da UA “ainda longe” do objetivo fixado pela organização pan-africana de vacinar 30% de uma população estimada em 1,3 mil milhões de habitantes até ao final de 2021.

África espera conseguir vacinar 60% da sua população até ao final de 2022, por forma a alcançar a imunidade de grupo, mas este objetivo está a ser fortemente ameaçado pela suspensão das exportações da vacina da AztraZeneca pelo instituto indiano, Serum, reafirmada esta semana.

A Índia, com 1,35 mil milhões de habitantes, está a enfrentar a segunda onda da pandemia, tendo ultrapassado esta semana 15 milhões de infeções pelo novo coronavírus e as 180 mil mortes associadas à Covid-19 desde o início da pandemia.

A Índia tem vindo a registar sucessivos novos máximos diários de infeções e mortes nos últimos dias, razão que levou o Governo indiano a interditar a exportação de vacinas pelo Serum Institute, maior fabricante mundial de imunizantes, para se concentrar nos esforços internos de vacinação.

Nkengasong lamentou a decisão anunciada por Nova Deli na segunda-feira de estender a proibição de exportações da vacina anglo-sueca, que começou por ser fixada apenas até ao final de março, e sugeriu que a Covax – iniciativa liderada pela Organizaçao Mundial de Saúde (OMS), Gavi e CEPI e destinado à distribuição de vacinas aos países de baixos rendimentos – está a procurar fabricantes alternativos para a produção da AstraZeneca.

O apelo para a utilização rápida das vacinas está associado à indicação do Maláui, na quarta-feira, de que iria destruir mais de 16.000 doses da vacina da AstraZeneca, porque tinham atingido o prazo de validade, inicialmente fixado para 13 de abril (seis meses) pelo instituto Serum.

O Maláui foi um dos 13 países aos quais a UA distribuiu um pacote de 925.000 doses de vacinas da AstraZeneca, doadas pela empresa africana de telecomunicações MTN.

Entretanto, como a autoridade reguladora indiana, no final de março, prolongou o prazo de validade das vacinas para nove meses – até 13 de julho, decisão que aguarda aprovação –, a diretora da OMS para África, Matshidiso Moeti, recomendou hoje noutra conferência virtual que os países com doses expiradas as “armazenem em locais seguros, até que possam receber uma recomendação sobre a sua utilização”.

“O prolongamento do prazo de validade de um produto não é novidade. Sendo um produto novo ainda não sabemos o quão estável ele permanecerá, especialmente falando nós de vacinas, porque há muitos detalhes a considerar”, afirmou Moeti.

A AstraZeneca é a principal vacina utilizada em África até agora, onde chegou principalmente através da Covax. A UA confirmou no final de março a compra de 220 milhões de vacinas de dose única à Janssen, uma subsidiária da Johnson & Johnson Pharmaceuticals, cuja distribuição está prevista para começar no terceiro trimestre de 2021.

John Nkengasong também apelou aos países com sobras de doses, especialmente os Estados Unidos da América, a doá-las ao continente africano antes que o vírus se propague para lá das cidades, os atuais “teatros de guerra” onde se encontra, e se estenda a áreas mais remotas.

Até à data, África registou um total de 118.849 mortes desde o início da pandemia e 4.460.119 casos de infeção, segundo os dados oficiais de hoje no continente.

LUSA/HN

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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