Ex-líder do CDS-PP diz que democracia “está transformada numa gritaria”

26 de Maio 2021

 O antigo vice-primeiro-ministro e ex-líder do CDS-PP, Paulo Portas, considerou esta quarta-feira que a democracia "está transformada numa gritaria" e que atualmente se governa "dependente da gritaria das redes" sociais, criticando essa prática.

“A democracia está, em certo sentido, transformada numa gritaria, onde não há nem longo prazo nem passado, é tudo um instante. Uma indignação e uma emoção, apenas a última antes da próxima”, afirmou Paulo Portas.

O centrista abriu hoje o segundo e último dia de trabalhos da terceira convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), com uma intervenção com o mote “O mundo pós-covid: riscos e oportunidades”.

Na sua intervenção, de cerca de 40 minutos e que foi ouvida pelo antigo primeiro-ministro e ex-líder do PSD Pedro Passos Coelho, Portas salientou que desta forma será difícil “garantir condições de bom governo”.

“Hoje em dia governa-se para os ‘likes’ [gostos], não se governa para o sentido comum e para o interesse geral. Hoje em dia governa-se dependente da gritaria nas redes, isso prejudica a capacidade de convivência de uma democracia e perverte o essencial da convicção democrática”, criticou o antigo governante, apontando que este “é essencialmente um fenómeno americano e um fenómeno europeu”.

Na ótica do antigo vice-primeiro-ministro, “as organizações das vanguardas nas redes sociais no plano estritamente político, levam ao triunfo das opções mais extremas e à rarefação da moderação, porque ninguém tem ‘likes’ por ser moderado e ninguém é aplaudido por procurar um compromisso”.

“Eu não sei onde é que isto nos levará, mas certamente não à democracia representativa como nós a conhecemos”, alertou igualmente.

Na sua intervenção, Paulo Portas vincou ainda que “esta crise provou que os governos direta ou indiretamente populistas não sabem gerir situações complexas” e argumentou que dos “12 piores casos do mundo” no que toca a contágios e mortes pela pandemia de Covid-19, em números proporcionais à população, “nove têm ou tiveram durante o ano de 2020 e caminho de 2021 governos populistas ou governos de coligação com populistas à esquerda e à direita”.

Apontando que “o populismo, seja ele de esquerda ou de direita é sempre uma simplificação”, o antigo líder do CDS-PP vincou que “uma pandemia não é simplificável, é um assunto complexo” e apontou “a impaciência de líderes populistas” como fator que ameaça a “proteção de vidas e economias”.

E indicou que “basta olhar para Espanha e Itália para ver populismos de esquerda, basta olhar para o continente americano para ver populismo de direita em ação perante uma situação complexa”.

No que toca ao impacto da pandemia nas economias mundiais, Paulo Portas referiu que “a China perdeu meio ano, os Estados Unidos um ano” e “a União Europeia, e em particular a zona euro, perderá entre um ano e meio e dois anos em termos económicos”.

Já o “risco para Portugal e para alguns outros países é estar no grupo” dos países “que perdem mais e recuperam mais lentamente o que perderam”, risco que deve ser contrariado com recurso aos “instrumentos da globalização”.

Portas destacou ainda que, enquanto os Estados Unidos da América injetaram na economia “o equivalente a 50% do PIB” em programas de estímulos, e que os fundos não são direcionados, a Europa “pré determinou que praticamente grande parte dos fundos ou são digitais ou são verdes”.

E assinalou ainda que, enquanto a China tem “um líder vitalício” a os americanos “um líder veterano, mas talvez o político mais experimentado”, a Europa “está a viver um ano em que a sua líder de referência vai deixar o poder” e “não se vê quem vá substituir por enquanto a autoridade que tinha a Chanceler alemã no plano europeu”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

MAIS LIDAS

Share This