De acordo com os dados do estudo, desenvolvido a nível mundial com dermatologistas e que envolveu 36 países, estima-se que 21% (1/5) dos melanomas ficaram por diagnosticar no ano passado e que 33,6% (1/3) das consultas não foram realizadas devido à pandemia, em todo o mundo.
Este trabalho, que pretendeu avaliar o impacto da pandemia na deteção do melanoma, estima ainda que em Portugal ficaram por diagnosticar 276 casos de melanoma, o que representa 20,9%.
Em declarações à Lusa, André Mansinho, oncologista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse que já havia uma perceção global deste atraso, sublinhando que os doentes estão, de facto, a chegar à consulta com doença mais avançada.
“Apesar de ainda não termos números oficiais a nível nacional, porque o registo oncológico está ainda a recolher os dados de 2020, gostávamos de ver as discrepâncias não só a nível do número de diagnósticos, mas também no estadio em que o melanoma é diagnosticado. De facto, parece-nos que as pessoas chegaram mais tarde, com doença mais avançada, sinais mais espessos. Alguns deles com doença local muito avançada”, afirmou.
O especialista disse que, muitas vezes, este atraso na chegada às consultas de dermatologia, para as quais os doentes são referenciados pelos médicos de medicina geral e familiar, “prendeu-se com a dificuldade de acesso aos cuidados primários”.
“O impacto é que vamos ter diagnósticos mais tardios. Infelizmente não vamos conseguir resgatar todos para a cura que pretendemos e isso vai traduzir-se num impacto de maior incidência de estadios avançados nestes próximos meses e anos”, afirmou.
O especialista defendeu que “é preciso fazer um trabalho importante para recuperar as consultas, sobretudo nos cuidados primários, porque as pessoas necessitam muito desse tipo de acompanhamento”, sublinhando que este problema de atraso na ida dos doentes ao médico também se verifica noutras doenças.
“Há muitos centros de saúde que usam bastante a teleconsulta de dermatologia, é quase uma via verde, mas em muitos outros isso não acontece e as pessoas ficam muito tempo até serem observadas”, insistiu, sublinhando a importância de investir nos cuidados de saúde primários, pois é através deles que os doentes são encaminhados para as consultas de especialidade nos hospitais.
O oncologista reconheceu que os médicos de medicina geral e familiar (médicos de família) “estão muito assoberbados , com responsabilidades acrescidas” por causa da pandemia e insistiu na necessidade de estes profissionais terem tempo para ver os seus doentes e poderem ajudar no rastreio.
“Há doentes que não se apercebem de alguns sinais, por vezes as pessoas só se preocupam quando os sinais ficam com um aspeto diferente e as campanhas de rastreio são importantes. E ter alguém que saiba o que está a ver e a fazer é igualmente importante”, acrescentou.
André Mansinho recordou a importância de evitar a exposição solar nas horas mais críticas do dia, de usar sempre protetor solar e frisou que o melanoma tem “um tempo de latência muito grande”, resultando muitas vezes de escaldões e queimaduras solares que as pessoas apanharam há vários anos atrás e que deixam lesões, que mais tarde acabam por evoluir.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), Portugal tem uma incidência de 1.320 casos por ano de melanoma, com uma taxa de mortalidade de 27%.
O melanoma é o tipo mais grave de cancro de pele. Segundo a OMS, há cerca de 200 mil novos casos de melanoma e 55 mil mortes associadas ao melanoma em todo o mundo a cada ano.
A Global Coalition for Melanoma Patient Advocacy foi criada em 2014, pela Melanoma Research Foundation, em resposta à necessidade global de dar voz aos doentes com melanoma.
LUSA/HN
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