Portugal e São Tomé alargam cooperação na área da telemedicina à gastroenterologia

18 de Junho 2021

Portugal e São Tomé e Príncipe realizaram hoje a primeira consulta de gastroenterologia por telemedicina, exame que alargou a uma nova especialidade médica uma década de cooperação entre os dois países através desta solução tecnológica.

Uma endoscopia digestiva alta, com recolha de tecidos para biopsia, num paciente em São Tomé, feita por uma médica são-tomense – a primeira especialista em gastroenterologia daquele país, recentemente formada em Coimbra – foi acompanhada em tempo real em Lisboa por uma colega da especialidade, que ofereceu apoio técnico e aconselhamento terapêutico.

Com o ato médico – presenciado pelo ministro são-tomense da Saúde, Edgar Neves, e pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde português, António Sales – ficou oficialmente inaugurada a unidade de gastroenterologia do Hospital Dr. Ayres de Menezes, em São Tomé, e em funcionamento o serviço TeleGastro.

“É muito importante para o país o aprofundamento da cooperação com os países de expressão portuguesa, neste caso particular com São Tomé e Príncipe. Estamos muito empenhados nesta cooperação e [este] é um excelente exemplo paradigmático de como, através da técnica, conseguimos fazer o exame que acabámos de ver, uma endoscopia digestiva, com a devida monitorização acompanhada em Portugal”, sublinhou António Sales.

Já Edgar Neves manifestou em nome do Governo de São Tomé “de forma muito clara o mais profundo agradecimento por este salto” na prestação de cuidados de saúde, sublinhando o caminho feito pela cooperação entre os dois países, sobretudo na área da imagiologia.

“É esta a cooperação que queremos aprofundar e melhorar. Já o temos feito noutras áreas, já existem consultas de cardiologia, pneumologia, dermatologia, e outras, esta será mais uma consulta”, disse António Sales.

O governante escusou-se a concretizar a intenção manifestada de “aprofundar e melhorar” esta cooperação, explicando que “estamos numa fase pandémica e neste momento, o mais importante são, de facto, as vacinas [contra a covid-19], os testes, a cooperação na sequenciação na genotipagem”, numa cooperação em curso “entre o Instituto Ricardo Jorge e os países de expressão portuguesa”.

“Temos que acorrer a esta fase pandémica. Esta é de facto a nossa maior urgência”, reiterou o secretário de Estado, que recordou o compromisso divulgado pelos Negócios Estrangeiros portugueses: “Cerca de 5% das nossas vacinas [irão] para os países de expressão portuguesa, algumas delas já foram para esses países”.

A iniciativa enquadrada no Programa Saúde para Todos, implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flor (IMVF), é financiada pela cooperação portuguesa, através do instituto Camões, e pela Direção-Geral da Saúde.

O TeleGastro permite a observação simultânea de pacientes por uma equipa são-tomense e por médicos especialistas da área de gastroenterologia da Fundação Champalimaud, em Lisboa.

A especialidade de gastroenterologia soma-se à plataforma de Telemedicina Mediagraf, criada em 2011, e que já integra as especialidades de cardiologia, imagiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia.

“Ao longo destes 10 anos temos desenvolvido algumas soluções inovadoras para resolver problemas relacionados com a distância. No início a tecnologia estava dependente dos satélites, com a chegada do cabo submarino em 2014 passamos a poder resolver vários tipos de problemas”, explicou o anfitrião do evento, Paulo Telles de Freitas, presidente do conselho de administração do IMVF.

“Passámos a ter todo o tipo de ecografias, quer pediátricas quer de adultos, a ter o TAC [uma máquina doada pela cooperação de Taiwan], ligado a Portugal, mamografias, um serviço de imagiologia totalmente digitalizado e cujos os exames são vistos por médicos portugueses”, afirmou.

“E nas áreas da oftalmologia, otorrino e agora na gastroenterologia, em vez de termos um gastroenterologista em São Tomé quatro vezes por ano durante uma semana de cada vez, a solução foi termos um gastroenterologista em permanência, com o apoio de gastroenterologistas portugueses”, acrescentou Telles de Freitas .

As soluções encontradas e integradas pelo IMVF no Programa Saúde para Todos em São Tomé, notou Telles de Freitas, podem ser replicadas na Guiné Bissau, desde logo pelos ganhos orçamentais que permite a ambos os países.

“A Guiné-Bissau é a próxima loucura. Acho que este programa pode ser reproduzido na Guiné-Bissau, por uma razão simples: porque é o país que mais doentes envia para Portugal”, frisou.

Depende apenas, considerou o presidente do IMVF, “da vontade do Governo da Guiné, em primeiro lugar”, mas também da vontade do Governo português e de ter “um conjunto de profissionais de saúde na Guiné-Bissau “que abracem esta causa”.

Sobre a disponibilidade do Governo português para replicar na Guiné-Bissau o projeto que vem a ser desenvolvido há três décadas em São Tomé, António Sales deixou à saída do evento alguma esperança.

“Alargar à Guiné Bissau? Com certeza, estamos sempre disponíveis para isso. Uma das grandes aprendizagens que fizemos durante esta pandemia foi a da digitalização dos meios e os meios telemáticos. Temos que aproveitar essa aprendizagem e aprofundá-la, não só com São Tomé e Príncipe, mas com todos os outros países de expressão portuguesa, com quem temos relações muito boas. E, portanto, queremos fazê-lo o mais rapidamente possível, sim”, afirmou o secretário de Estado.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This