José Carlos Martins considerou que o reforço de enfermeiros que tem havido é insuficiente face ao aumento das necessidades de saúde “decorrente daquilo que não foi respondido”, com ou sem o novo agravar da pandemia de Covid-19.
“De acordo com os indicadores da própria Ordem dos Enfermeiros seriam necessários cerca de 20 mil enfermeiros, sobretudo para que tenham condições de prestar cuidados em casas das pessoas. Temos cerca de 3,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos, cerca de um milhão com mais de 75 anos, em situações de dependência, com doenças crónicas que não se podem deslocar aos serviços de saúde”, afirmou à Lusa o presidente do SEP.
O dirigente sindical considerou ainda “intolerável” o quadro de medidas tomadas pelo governo, sendo por isso necessária a saída dos enfermeiros à rua para “reafirmar a necessidade urgente” de agendar uma reunião, já solicitada pelo SEP, com a tutela.
“O aumento do número de doentes internados, a aceleração do processo de vacinação e o plano de recuperação suspenso exalta a necessidade de mais enfermeiros. É neste quadro que a partir de hoje o governo impede as administrações de contratar novos enfermeiros, reduz em 50% o valor do trabalho extraordinário, não resolve nenhum dos problemas anteriores e continua a não decidir atribuir a menção de relevante [na avaliação de desempenho], o que nos leva hoje a entregar um abaixo-assinado com 10 mil assinaturas”, acrescentou.
A concentração organizada pelo SEP reuniu cerca de uma centena de enfermeiros que foram dar os seus testemunhos pessoais, com os sapatos do serviço na mão a simbolizar o desgaste da profissão e apelar para a contratação única, progressão na carreira e valorização da profissão.
O enfermeiro Francisco Branco veio dos Açores protestar contra o sistema de avaliação do desempenho dos enfermeiros, cuja avaliação permite ou não a progressão na carreira, considerando que os enfermeiros deveriam ser todos avaliados com a classificação “excelente, porque demonstraram que estiveram à altura”. No entanto, “não há orientação do Ministério da Saúde para que isso seja uma regra para o país inteiro”.
“Com a pandemia todos os objetivos foram alterados, fomos prejudicados e reclamamos que nos anos na pandemia a avaliação fosse tida com essa consideração”, defendeu.
Enfermeira há 24 anos, Conceição Braga está decidida a trocar Portugal por Inglaterra, uma vez que sente que será mais valorizada pelo número de horas de trabalho.
“Em Portugal não somos valorizados a nível económico, nem a nível das próprias chefias que não reconhecem o trabalho que estamos a fazer. Um colega que trabalhe em Inglaterra num turno faz o nosso salário mensal. Não faz sentido nós aqui trabalharmos um mês inteiro e não ganharmos para as despesas”, disse.
Neste quadro, perante a quarta vaga da pandemia e o desgaste dos enfermeiros, o presidente do SEP afastou a hipótese de faltarem “os cuidados essenciais e emergentes”.
LUSA/HN
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