Associação ambientalista alerta para risco de novas pandemias

17 de Junho 2020

A associação ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) alerta para a possibilidade de novas pandemias como a de Covid-19, porque há condições para tal, a menos que se tomem medidas urgentes.

O alerta é deixado num relatório divulgado esta quarta-feira, no qual a rede mundial de conservação da natureza identifica os fatores ambientais que impulsionam o aparecimento de doenças transmitidas aos humanos pelos animais (zoonoses), referindo a que só com uma grande mudança se pode preservar a saúde das pessoas.

Com o titulo “Covid-19: Apelo urgente para proteger pessoas e animais”, no relatório da WWF lembra-se que todos os anos surgem três a quatro novas zoonoses, algumas muito graves (como o VIH/Sida ou Síndrome Respiratória Aguda – SARS e a Covid-19), e diz-se que as más normas de segurança alimentar estão a aumentar, como o comércio e consumo de animais selvagens, potenciando a exposição a doenças.

Segundo a WWF “o risco de surgir uma nova doença zoonótica no futuro é mais alto do que nunca, com o potencial de causar caos na saúde, nas economias e na segurança global”. A Covid-19, exemplifica, teve para já um impacto económico no mundo que representa quase o triplo do PIB do Reino Unido.

O comércio e consumo de animais selvagens, a desflorestação, a expansão da agricultura extensiva e a “intensificação insustentável da produção animal” são fatores que propiciam o aparecimento de zoonoses, segundo o documento.

Num comunicado divulgado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em associação com a WWF, lembra-se que o novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19 (que já matou 438 mil pessoas e infetou mais de oito milhões em todo o mundo), deverá ser uma zoonose, segundo “todas as evidências disponíveis”.

E a doença não surgiu, diz-se no comunicado, por falta de avisos de cientistas e líderes de opinião.

“Temos de reconhecer urgentemente a ligação entre destruição da natureza e saúde humana, ou assistiremos a uma nova pandemia em breve. Não há dúvida, e a ciência é clara, temos de trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela”, disse a propósito do relatório a diretora executiva da ANP/WWF, Ângela Morgado, citada no comunicado.

Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da associação, também no comunicado, defendeu a urgência de “restringir o comércio e o consumo de vida selvagem de alto risco, pôr fim à desflorestação e conversão de terra, assim como gerir a produção alimentar de forma sustentável”.

São medidas que, no entender da especialista, prevenirão a transmissão de agentes patogénicos para humanos.

No relatório a WWF preconiza uma resposta coletiva que interrompa o atual ciclo, recuperando a natureza, acabando com o comércio ilegal de animais selvagens, parando com a desflorestação e a reconversão de terras. E deixa apelos nesse sentido a governos, empresas e indústrias e cidadãos.

Devido à Covid-19, lembra a WWF, o Governo chinês proibiu o consumo de animais selvagens a 24 de fevereiro, e pode mesmo aprovar uma Lei de Proteção de Vida Selvagem, que será das mais “robustas e rigorosas”.

Mas é preciso mais, defendem os ambientalistas no documento, salientando que o atual sistema alimentar é insustentável e está a fazer com que muitos espaços naturais sejam convertidos para agricultura intensiva, “fragmentando ecossistemas naturais e aumentando as interações entre a vida selvagem, animais domésticos e humanos”.

E dão um exemplo: desde 1990 desapareceram 178 milhões de hectares de floresta, um número equivalente ao tamanho da Líbia, o 18.º maior país do mundo.

A cada ano, acrescentam, cerca de 10 milhões de hectares de floresta estão a desaparecer, para dar lugar a terras para agricultura e outros usos.

“A crise da Covid-19 demonstra que mudanças sistémicas devem ser feitas de forma a abordar os fatores ambientais das pandemias. A ANP|WWF advoga uma abordagem conjunta, que ligue a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente e apela a que esta ligação seja incluída nas tomadas de decisão referentes à vida selvagem e ao uso de terras”, diz-se no comunicado.

A ANP/WWF considera a cimeira da ONU sobre diversidade biológica, agendada para setembro, um momento importante para “os líderes mundiais acelerarem a ação em relação à natureza”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Diabetes: O Peso Silencioso na Mente

Mais de metade das pessoas com diabetes em Portugal sente que a doença afeta significativamente o seu bem-estar emocional. Um estudo revela um impacto mental profundo, com dois terços dos inquiridos a reportarem ansiedade. O sentimento de isolamento e a discriminação são realidades para muitos, agravando um quotidiano já de si complexo

Depressão Precoce e Risco de Suicídio: Estudo Revela Marcadores Genéticos Distintos

Um estudo internacional publicado na Nature Genetics identificou diferenças genéticas significativas entre a depressão de início precoce e a tardia. A investigação, que analisou dados de mais de meio milhão de pessoas, conclui que a forma da doença que surge antes dos 25 anos tem uma carga hereditária mais forte e está associada a um risco consideravelmente elevado de tentativas de suicídio, abrindo caminho a abordagens de medicina personalizada

PS de Gaia acusa Ministério da Saúde de desinvestir em pediatria local

A secção do PS em Vila Nova de Gaia acusou esta sexta-feira o Governo de planear a desclassificação da pediatria e da cirurgia pediátrica na ULS local. Os socialistas consideram a intenção inaceitável, alertando que obrigará milhares de utentes a deslocações ao Porto, com custos acrescidos e perda de qualidade no atendimento, saturando outros hospitais

Novo método permite localizar microplásticos em tecido humano sem o destruir

Investigadores da Universidade Médica de Viena desenvolveram um novo método que localiza microplásticos no interior de tecidos humanos sem os destruir. A técnica OPTIR identifica quimicamente partículas e preserva a estrutura do tecido, permitindo correlacionar a sua presença com alterações patológicas. O avanço técnico, já testado em amostras de cólon humano, pode impulsionar a investigação sobre os efeitos dos plásticos na saúde

Agricultor belga transforma adversidade em sorrisos com quinta multifuncional

Dois acidentes graves forçaram Marc De Boey e a mulher a repensar a sua quinta pecuária na Bélgica. Com assessoria especializada, converteram o negócio num caso de sucesso: uma exploração multifuncional com produção própria de gelados, visitas e uma cooperativa que junta onze produtores locais, demonstrando a viabilidade de novos modelos rurais

Proteína Vegetal nas Escolas Pode Reduzir Impacto Ambiental em 50%

Um estudo liderado pela Universitat Oberta de Catalunya, em colaboração com o ISGlobal e a ASPCAT, concluiu que as sucessivas atualizações das diretrizes para ementas escolares na Catalunha diminuíram o impacto ambiental das refeições em 40% desde 2005. A substituição de proteína animal por leguminosas e cereais diversificados pode levar a uma redução de até 50%, sem comprometer o valor nutricional

Ar inviável no Baixo Vouga após ultrapassagem do limiar de ozono

A estação de medição de Estarreja registou uma concentração horária de ozono de 184 µg/m³, ultrapassando o limiar de informação à população. A CCDR Centro emitiu um alerta para os residentes de 48 concelhos, recomendando que evitem esforços físicos intensos ao ar livre e contactos com produtos irritantes, devido aos riscos para a saúde

Medicina Preventiva Reúne Especialistas Ibéricos na Guarda

A cidade da Guarda acolheu a terceira edição do Encontro Ibérico de Medicina Preventiva, nos dias 6 e 7 de novembro. O evento juntou cerca de 500 participantes e recebeu 174 trabalhos científicos, num fórum dedicado a debater a prevenção da doença e a promoção de estilos de vida mais saudáveis, com destaque para a colaboração transfronteiriça

Modelos de Cancro Colorretal em Ratos Espelham com Precisão a Doença Humana

Investigadores recorrem a modelos de xenotransplante derivados do doente, nos quais fragmentos de tumores humanos são implantados em roedores, para desvendar os intricados mecanismos do cancro colorretal. Estes modelos, que conservam a complexidade do tumor original, estão a abrir caminhos mais fiáveis para testar a eficácia de novos fármacos e compreender a resistência às terapias, superando as limitações dos tradicionais cultivos de células. O seu uso promete acelerar a chegada de tratamentos mais personalizados aos doentes

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights