O alerta é deixado num relatório divulgado esta quarta-feira, no qual a rede mundial de conservação da natureza identifica os fatores ambientais que impulsionam o aparecimento de doenças transmitidas aos humanos pelos animais (zoonoses), referindo a que só com uma grande mudança se pode preservar a saúde das pessoas.
Com o titulo “Covid-19: Apelo urgente para proteger pessoas e animais”, no relatório da WWF lembra-se que todos os anos surgem três a quatro novas zoonoses, algumas muito graves (como o VIH/Sida ou Síndrome Respiratória Aguda – SARS e a Covid-19), e diz-se que as más normas de segurança alimentar estão a aumentar, como o comércio e consumo de animais selvagens, potenciando a exposição a doenças.
Segundo a WWF “o risco de surgir uma nova doença zoonótica no futuro é mais alto do que nunca, com o potencial de causar caos na saúde, nas economias e na segurança global”. A Covid-19, exemplifica, teve para já um impacto económico no mundo que representa quase o triplo do PIB do Reino Unido.
O comércio e consumo de animais selvagens, a desflorestação, a expansão da agricultura extensiva e a “intensificação insustentável da produção animal” são fatores que propiciam o aparecimento de zoonoses, segundo o documento.
Num comunicado divulgado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em associação com a WWF, lembra-se que o novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19 (que já matou 438 mil pessoas e infetou mais de oito milhões em todo o mundo), deverá ser uma zoonose, segundo “todas as evidências disponíveis”.
E a doença não surgiu, diz-se no comunicado, por falta de avisos de cientistas e líderes de opinião.
“Temos de reconhecer urgentemente a ligação entre destruição da natureza e saúde humana, ou assistiremos a uma nova pandemia em breve. Não há dúvida, e a ciência é clara, temos de trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela”, disse a propósito do relatório a diretora executiva da ANP/WWF, Ângela Morgado, citada no comunicado.
Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da associação, também no comunicado, defendeu a urgência de “restringir o comércio e o consumo de vida selvagem de alto risco, pôr fim à desflorestação e conversão de terra, assim como gerir a produção alimentar de forma sustentável”.
São medidas que, no entender da especialista, prevenirão a transmissão de agentes patogénicos para humanos.
No relatório a WWF preconiza uma resposta coletiva que interrompa o atual ciclo, recuperando a natureza, acabando com o comércio ilegal de animais selvagens, parando com a desflorestação e a reconversão de terras. E deixa apelos nesse sentido a governos, empresas e indústrias e cidadãos.
Devido à Covid-19, lembra a WWF, o Governo chinês proibiu o consumo de animais selvagens a 24 de fevereiro, e pode mesmo aprovar uma Lei de Proteção de Vida Selvagem, que será das mais “robustas e rigorosas”.
Mas é preciso mais, defendem os ambientalistas no documento, salientando que o atual sistema alimentar é insustentável e está a fazer com que muitos espaços naturais sejam convertidos para agricultura intensiva, “fragmentando ecossistemas naturais e aumentando as interações entre a vida selvagem, animais domésticos e humanos”.
E dão um exemplo: desde 1990 desapareceram 178 milhões de hectares de floresta, um número equivalente ao tamanho da Líbia, o 18.º maior país do mundo.
A cada ano, acrescentam, cerca de 10 milhões de hectares de floresta estão a desaparecer, para dar lugar a terras para agricultura e outros usos.
“A crise da Covid-19 demonstra que mudanças sistémicas devem ser feitas de forma a abordar os fatores ambientais das pandemias. A ANP|WWF advoga uma abordagem conjunta, que ligue a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente e apela a que esta ligação seja incluída nas tomadas de decisão referentes à vida selvagem e ao uso de terras”, diz-se no comunicado.
A ANP/WWF considera a cimeira da ONU sobre diversidade biológica, agendada para setembro, um momento importante para “os líderes mundiais acelerarem a ação em relação à natureza”.
LUSA/HN
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