Sediada no parque de biotecnologia instalado em Cantanhede, Biocant Park, a Criostaminal já efetuou 45 mil utilizações de sangue umbilical para o tratamento de cerca de 80 doenças, segundo disse à agência Lusa o diretor-geral da empresa, André Gomes.
“Precisávamos de uma unidade laboratorial especial para efetuarmos a manipulação das células, num processo que é considerado um medicamento regulado pelo Infarmed”, salientou o responsável, acrescentando que se trata de um laboratório “inovador, dos quais existem muito poucos no mundo”.
Segundo André Gomes, a Criostaminal está desde fevereiro a trabalhar células mesenquimais para o tratamento dos doentes mais graves com infeção pela Covid-19, que proporcionou “melhorias significativas” em pacientes com pneumonias graves.
A empresa, acrescentou o diretor-geral, está em negociações com vários hospitais nacionais para a realização de um ensaio clínico, devendo até ao final de julho finalizar o processo de produção de células, que não terão custos para o Serviço Nacional de Saúde.
“Até ao fim do ano devemos começar a tratar doentes com acidentes vasculares cerebrais (AVC), numa parceria com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)”, adiantou o responsável, explicando que o tratamento será efetuado com células da medula óssea injetadas na zona do cérebro atingida.
Trata-se do projeto Stroke Terapy, já em ação, que através de células estaminais pretende recuperar doentes que sofreram AVC isquémicos agudos.
Dentro de dois anos, a Criostaminal prevê também estar a realizar ensaios clínicos na área das doenças autoimunes, através de células que regulem o sistema imunitário.
André Gomes revelou ainda que, no próximo ano, avança um projeto [já aprovado] em parceria com o Hospital Pediátrico de Coimbra, ‘batizado’ de RescueCord, que consiste num ensaio clínico em crianças que nascem com privação de oxigénio.
O projeto visa o fabrico de um novo produto de terapia celular a partir de sangue do cordão umbilical para a aplicação clínica em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquémica.
De acordo com o diretor-geral da empresa, o objetivo é fornecer sangue do cordão umbilical ao bebé nas 24 a 48 horas após o seu nascimento, para “ajudar a reparar danos no cérebro”.
“Vamos ser pioneiros na Europa”, sublinhou.
Por outro lado, a nova unidade, que representou um investimento de um milhão de euros, comparticipada pelo programa Portugal 2020, vai permitir também “estabelecer uma ponte com a Universidade de Coimbra e o CHUC para desenvolver outros medicamentos experimentais”.
A nova unidade de produção de medicamentos de terapia celular é composta por três salas que cumprem os padrões exigidos pela norma ISO 14644 e pela diretiva GMP – Good Manufacturing Practice, e permite a produção, preparação e manuseamento de produtos médicos ou biotecnológicos para uso em humanos.
“Este projeto é uma aposta na valorização do conhecimento, da ciência e dos nossos colaboradores altamente qualificados. Investir de forma sustentada no desenvolvimento da medicina do futuro, uma medicina preventiva e personalizada, é algo em que acreditamos e que temos vindo a fazer ao longo dos últimos 15 anos”, sintetiza André Gomes.
Para o diretor-geral da Crioestaminal, a nova infraestrutura vai “aumentar não só a competitividade da empresa como a competitividade do país num setor de ponta como é o da biotecnologia”.
“Esta nova unidade de produção permite tirar partido de todo o potencial das células estaminais e tornar-se uma referência na Europa”, concluiu o diretor-geral.
Fundada em 2003, a Crioestaminal foi pioneira em Portugal na criopreservação de células estaminais e tornou-se no “maior banco da Península Ibérica, integrando atualmente o maior grupo europeu da área”, com 80 profissionais altamente qualificados ao seu serviço.
A inauguração da nova unidade farmacêutica decorre na tarde de hoje, com a presença da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.
LUSA/HN
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