Nas escavações, foi encontrada “uma nova sala”, que se pensa ter sido o “frigidarium (zona de banhos frios)”, o que “altera com uma grande percentagem a interpretação que se tem feito” do espaço, revelou à agência Lusa o arqueólogo coordenador, José Rui Santos.
“O edifício tem um ritual de passagem. Ou seja, inicia-se nos banho frios e, gradualmente, vai-se para os banhos quentes, de vapor e de alta temperatura e foi esse ponto importante que acrescentámos agora”, sublinhou.
Nestes trabalhos, relatou, foram também encontradas “estratigrafias e espólios arqueológicos móveis”, que fornecem “boas informações”, nomeadamente sobre “o revestimento das salas, todas em mármore, e a cerâmica, que veio da península Itálica”.
Encontradas “por acaso” no final dos anos 80 do século passado, as Termas Romanas de Évora situam-se na zona central do edifício dos Paços do Concelho, na Praça do Sertório, no centro histórico da cidade alentejana.
Por essa altura, durante obras para a instalação de um bar no espaço que atualmente é ocupado pelo arquivo, contou José Rui Santos, “foi encontrado o ‘laconicum’ (zona de banhos de vapor)” e, posteriormente, o sítio foi “intervencionado e foi-se descobrindo mais e mais”.
“A ‘natatio’ (piscina ao ar livre), que fica no logradouro” do edifício da câmara, “sabemos onde está, mas não ficou visível”, referiu, indicando que “o que ficou visível foi o ‘laconicum’ e o ‘praefurnium’ (zona de fornalhas).
Para o arqueólogo que coordena os trabalhos, as termas romanas são “o sítio arqueológico mais importante do centro histórico de Évora”, uma vez que, “dos que estão visíveis” na cidade, este tem “grande destaque”.
José Rui Santos explicou que o Templo Romano de Évora é “um edifício, um elemento arquitetónico e não pode ser entendido como um sítio arqueológico”, sublinhando que existem outros lugares com interesse arqueológico, mas situam-se em espaços particulares.
Também em declarações à Lusa, o vereador da Câmara de Évora com o pelouro da Cultura, Eduardo Luciano, revelou que o município está a preparar um projeto que vai permitir “criar um centro interpretativo” deste sítio arqueológico.
“O projeto final será o de tornar o espaço visitável com informação que permita interpretar aquilo que se passava nas termas”, adiantou, frisando que a câmara municipal pretende também “resolver o problema das coberturas, que são de amianto.
De acordo com o autarca, ao longo dos últimos anos, os turistas “podiam espreitar” o sítio arqueológico, o que deixou de ser possível, nos últimos três meses, devido à pandemia de covid-19.
Promovidas pelo município alentejano, as escavações arqueológicas nas Termas Romanas de Évora começaram em setembro de 2019, sob direção científica de técnicos municipais e da Direção Regional de Cultura do Alentejo.
Segundo a autarquia, os vestígios agora encontrados “atestam várias reestruturações do edifício termal, espaçadas em cronologias que vão do século I d.C. (data fundacional) até ao século IV, em contexto de ocupação romana”.
O trabalho realizado tem sido alvo de registo fotogramétrico para proporcionar “uma maior celeridade no acesso aos dados arqueológicos” e a possibilidade de “divulgação futura ao público”.
Atualmente em estudo, o espólio recolhido ficará em depósito na Reserva Arqueológica Municipal, tendo sido iniciadas diligências para o seu registo digital e musealização, adiantou a autarquia.
As estimativas indicam que a estrutura do complexo termal poderia chegar quase aos 2.500 metros quadrados.
LUSA/HN
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