Dia Mundial da Alergia

6 de Julho 2020

Ana Morête Assistente Hospitalar Graduada de Imunoalergologia Centro-Hospitalar Baixo Vouga, EPE Vice – Presidente da Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia

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Dia Mundial da Alergia

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06/07/2020 | Alergologia

O Dia Mundial da Alergia é uma iniciativa conjunta entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a World Allergy Organization (WAO), tendo como objetivo principal aumentar a consciencialização da população em relação às doenças alérgicas.

Celebrado anualmente no dia 8 de julho, decorrem neste dia uma série de atividades que visam sensibilizar médicos, doentes e o público em geral para a importância dos diferentes alergénios, das diferentes doenças alérgicas a eles associadas, bem como destacar a importância do seu tratamento e controlo.

Em Portugal estima-se que as doenças alérgicas afetem cerca de um terço da população, causando um enorme impacto na qualidade de vida e na produtividade laboral e escolar. No entanto no nosso país a doença está sub-diagnosticada, o que leva ao sub-tratamento e ao sub-controlo.

As suas repercussões económicas são substanciais, bem como a morbilidade que apresentam e que constitui um peso financeiro importante nos custos de saúde. Assim é fundamental saber mais sobre as alergias, os seus principais sintomas, o que fazer para as diagnosticar, prevenir e controlar.

A alergia resulta de uma resposta excessiva do sistema imunitário (reação de hipersensibilidade) ao contacto com um estímulo exterior, normalmente tolerado pela população geral. Nesta situação os mastócitos que são as células imunitárias que iniciam a reação alérgica e, posteriormente, o desenvolvimento específico de células e de anticorpos  contra esses estímulos desencadeiam uma resposta inflamatória, a qual pode manifestar-se de várias formas e em diferentes partes do corpo.

 

As manifestações clínicas mais frequentes nos diferentes órgãos alvo são:

Rinite – prurido nasal, espirros, rinorreia e obstrução nasal;

Conjuntivite – prurido conjuntival, eritema, lacrimejo e fotofobia;

Asma – opressão torácica, tosse, dispneia e pieira;

Urticária – lesões maculopapulares, pruriginosas, que desaparecem à digito-pressão;

Anafilaxia – reação alérgica aguda e intensa, que pode afetar vários órgãos alvo ao mesmo tempo e que pode progredir rapidamente e ser mortal.

 

Em relação à alergia alimentar e medicamentosa, na maioria dos doentes as reações desencadeiam-se, habitualmente, poucos minutos após a sua ingestão e resultam de um mecanismo alérgico mediado pelos anticorpos IgE. As manifestações clínicas mais frequentes são a urticária, angioedema e mais raramente as queixas gastrointestinais e reações anafiláticas.

 

Todas os pacientes com sintomas compatíveis com doença alérgica devem ser estudados por um Imunoalergologista. 

A consulta realizada no âmbito desta especialidade baseia-se:

 

. Colheita de uma história clínica completa que inclua antecedentes alérgicos nos parentes mais próximos e antecedentes pessoais. É importante questionar o doente sobre os sintomas da doença atual nos diferentes órgãos alvo (nariz, olhos, brônquios, pele, aparelho gastrointestinal), bem como conhecer as circunstâncias temporais do aparecimento dos primeiros sintomas e dos episódios sucessivos.

 

. Realização de exames auxiliares de diagnóstico eletivos da especialidade, como é o caso de:

  1. testes cutâneos: testes por picada ”prick” , testes p0or injeção intradérmica ou testes epicutâneos, por aplicação de adesivos habitualmente no dorso do doente
  2. espirometria com prova de broncodilatação, se o doente apresenta asma
  3. provas de provocação com alergénios (nasais, oculares, orais ou outras), que são o gold standard no estudo da alergia alimentar ou medicamentosa.

Os testes cutâneos por picada são de leitura imediata e identificam o ou os alergénios implicados; por vezes poderão ser necessário os outros tipos de testes; no estudo da função respiratória é normalmente suficiente a espirometria com prova de broncodilatação. Havendo dúvidas é necessário por vezes realizar provocações brônquicas inespecíficas. O doseamento do óxido nítrico no ar exalado é também frequentemente útil para avaliar a presença de inflamação das vias aéreas.

 

Embora a reação alérgica possa ser desencadeada por uma imensa variedade de alergénios e apresente formas altamente variáveis do ponto de vista de características clínicas, a abordagem terapêutica segue sempre os mesmos 4 pontos fundamentais: evicção dos alergénios, imunoterapia específica com alergénios, terapêutica farmacológica e educação.

A evicção dos alergénios é sempre a opção terapêutica mais desejável mas infelizmente não é aplicável a 100% na maioria dos doentes. Quando não conseguimos evitar o alergénio, então devemos optar por outras modalidades como a imunoterapia específica ou o tratamento farmacológico. 

A imunoterapia é o único tratamento que comprovadamente demonstra eficácia ao alterar a evolução natural da doença alérgica. Consiste na administração de doses progressivamente crescentes de extratos alergénicos, a intervalos regulares, por um período de 3 a 5 anos. A imunoterapia interfere nos mecanismos básicos da alergia provocando tolerância aos alergénios, diminuindo os sintomas e a necessidade de uso da medicação, mantendo-se estes efeitos anos após o seu término.

Os fármacos para a doença alérgica devem reunir condições de segurança, eficácia e facilidade de administração e na maioria das patologias surgem reunidos em opções terapêuticas específicas: as “guidelines” ou normas orientadoras. Por exemplo as recomendações do projeto ARIA (Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma) para a rinite propõem em todos os degraus de tratamento além da evicção dos alergénios, os anti-histamínicos H1 não sedativos de segunda geração e os corticosteróides intranasais.

As guidelines GINA (Global Initiative for Asthma) enfatizam no tratamento da asma a obtenção e manutenção do controlo da doença: controlar sintomas e normalizar a função pulmonar. Em todos os degraus deve ser usada a medicação de alívio de acordo com a necessidade, e uma ou mais medicações de controlo, que impeçam que os sintomas e as crises sejam desencadeados. Os corticoides inalados, que permitem uma ação mais direta nas vias respiratórias, são os fármacos de controlo mais eficazes disponíveis atualmente.

Quando a pele é o órgão-alvo afetado, surge a urticária e/ou o angioedema. Os mecanismos etiológicos da urticária, aguda ou crónica, são múltiplos. Os princípios básicos do tratamento incluem a evicção dos fatores desencadeantes e como os sintomas de urticária são primariamente mediados pela histamina, os anti-histamínicos, são os fármacos de eleição no tratamento.

Nos doentes com dermatite atópica a atitude geral visa essencialmente evitar fatores desencadeantes, especificamente fatores de agressão cutânea. A educação dos doentes relativamente aos cuidados de higiene, vestuário e à necessidade de aplicação diária de cremes emolientes para uma boa hidratação cutânea são essenciais. No tratamento farmacológico é fundamental controlar a inflamação cutânea de uma forma eficaz e a longo prazo  para assim se conseguir aliviar o prurido, reduzir o desconforto, melhorar o sono e a qualidade de vida destes doentes e seus agregados familiares.

O tratamento da anafilaxia, reação sistémica grave de início súbito, é uma emergência médica e exige sempre a administração de adrenalina intramuscular. Os doentes com reações anafiláticas prévias devem ser portadores de caneta auto-injetora de adrenalina para o tratamento de emergência, mesmo antes de chamarem o 112 ou se dirigirem a um serviço de urgência. De tal forma é vital que estes doentes tenham consigo~esta medicação em todos os momentos, a Assembleia da República aprovou a gratuitidade destes dispositivos autoinjetores de adrenalina no OE de 2020. Infelizmente, e incompreensivelmente, ainda se aguarda a regulamentação do processo pelo INFARMED para que estes doentes possam ter acesso gratuito à medicação que precisam de usar para lhes salvar a vida.

Dado o carácter crónico da alergia, a educação do doente assume particular importância, devendo ser possibilitado o seu envolvimento na tomada de decisão relativamente às várias opções de tratamento referidas atrás

Em 2020 o Dia Mundial da Alergia é celebrado em plena pandemia COVID-19. 

Congratulo-me com o papel dos Imunoalergologistas durante toda esta crise sanitária. Num exercício de responsabilidade para diminuir a possibilidade de contágio e reduzir o risco de propagação da infeção foram alteradas as dinâmicas de seguimento dos nossos doentes, numa grande maioria com patologia respiratória ou imunológica crónica. Na maioria dos casos o seguimento foi mantido nas diferentes formas da telemedicina, em doentes com diferentes formas de gravidade. A SPAIC (Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clinica) elaborou com o apoio dos Grupos de Interesse folhetos sobre Asma, Urticária, Alergia cutânea, Angioedema Hereditário, Imunodeficiências Primárias e COVID, disponíveis para consulta do pública no site www.spaic.pt.

Na semana passada a SPAIC – Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica –no âmbito da Semana Mundial da Alergia abriu as suas redes sociais a sessões diárias de perguntas e respostas. Cada dia esteve em destaque uma doença alérgica e dois especialistas disponíveis, em direto, para responder às dúvidas e preocupações dos doentes.

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