Estudo diz que número de mortes por sida, tuberculose e malária vai aumentar

14 de Julho 2020

O número de mortes por sida, tuberculose e malária vai aumentar nos próximos cinco anos, no caso da malária em mais de um terço, devido à interrupção de tratamentos provocada pela Covid-19, prevê um estudo divulgado esta segunda-feira.

De acordo com a revista científica “The Lancet Global Health”, alguns países de baixo e médio rendimento podem ver o número de mortes devido à sida aumentar em 5%, devido à tuberculose aumentar em 20% e devido à malária em 36%.

O estudo agora publicado nota no entanto que ainda é possível reduzir substancialmente o número de mortes caso se dê prioridade a serviços mais críticos, como a terapia antirretroviral (para o HIV-Sida), o diagnóstico e tratamento atempado da tuberculose ou o fornecimento de redes mosquiteiras, tratadas com inseticida de longa duração, no caso da malária.

O estudo criou um modelo sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde pública em países mais pobres e com elevada incidência das três doenças, e nele conclui-se que, no pior dos cenários, a mortalidade na sequência da Covid-19 poderia ter uma escala semelhante à da própria pandemia do novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19.

A Covid-19 tem o potencial de causar grandes perturbações nos sistemas de saúde, especialmente nos mais frágeis, limitando também as atividades de rotina e cortando cadeias de abastecimento. Os investigadores alertam para a necessidade de tomar medidas em relação às três doenças mas advertem que é muito difícil prever o verdadeiro impacto da pandemia em outras doenças.

As mortes por malária diminuíram para metade no mundo inteiro desde 2000 mas esse progresso parou à medida que os mosquitos ganharam resistência aos tratamentos. Cerca de 94% das mortes acontece na África subsaariana, com 380.000 óbitos em 2018.

Em relação à VIH-Sida as mortes também caíram para metade numa década. Em 2019 morreram 690.000 pessoas em todo o mundo, a grande maioria em países de baixo ou médio rendimento.

Quanto à tuberculose, estima-se que 49 milhões de pessoas foram salvas devido ao diagnóstico e tratamento da doença entre 2000 e 2015, embora mesmo assim tenham morrido 1,8 milhões de pessoas com tuberculose em 2018, com mais de 95% dos casos em países pobres.

“A pandemia de Covid-19 e as ações tomadas na resposta à mesma podem anular alguns dos avanços das últimas duas décadas contra as principais doenças como o HIV, a tuberculose e a malária, agravando diretamente o fardo da pandemia”, disse, citado na revista, o professor Timothy Hallett, da universidade “Imperial College”, de Londres (Reino Unido), um dos principais responsáveis pela investigação.

Afirmando que em países pobres mesmo pequenas perturbações podem ter “consequências devastadoras” para milhões de pessoas, o responsável sublinhou que o estudo enfatiza as decisões “extraordinariamente difíceis” que os políticos enfrentam.

É que, explicou, se forem tomadas boas medidas pode-se evitar a maior parte das mortes por Covid-19, mas sem uma boa gestão pode acontecer que as pessoas não vão aos hospitais e centros de saúde e podem ser cancelados programas de saúde pública.

Peter Sands, diretor executivo do Fundo Global contra a Sida, Tuberculose e Malária, em Genebra (Suíça), comentando o estudo ainda que não tenha estado envolvido, disse que o impacto da Covid-19 nas três doenças pode ser ainda maior do que é sugerido e pode mesmo, nalguns países, provocar mais mortes que a nova pandemia.

O Fundo faz um inquérito quinzenal nos mais de 100 países onde investe e os últimos resultados publicados sugerem que 85% dos programas sobre HIV-Sida, 78% dos programas sobre tuberculose, e 73% dos programas sobre malária estão a ter perturbações.

LUSA/HN

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