“Tenho recebido milhares de queixas, mas a maior parte dessas queixas terá de esperar por chegarmos ao fim do ano para que os consumidores escolham entre realizar uma viagem diferente, com o ‘voucher’ que têm, ou receber o seu dinheiro de volta”, explica, em entrevista à Lusa, a dias de participar num debate organizado conjuntamente pelas agências de notícias portuguesa Lusa e espanhola Efe sobre o impacto da pandemia no setor do turismo.
O Governo português decidiu que, no caso das viagens que deviam ter sido gozadas a partir do momento em que foi declarada a pandemia e até setembro, as pessoas não receberão, tal como impõe a legislação europeia, o seu dinheiro de volta de imediato, mas sim um vale para gozar outra viagem. O reembolso mantém-se como opção, mas dinheiro de volta só no próximo ano.
“Foi a solução encontrada para evitar uma enorme dificuldade no setor das agências de viagens e turismo que se criaria” com as devoluções imediatas, justifica Vera Jardim, considerando que esta opção também defende “os interesses dos consumidores”, já que estes sentiriam o efeito das dificuldades das agências de viagens.
“Vendem-se milhares e milhares de viagens de finalistas e isso daria como resultado, se as agências tivessem de repor o dinheiro, que a maior parte das agências não teria essa capacidade”, constata, realçando que Portugal é o único país da Europa “que tenta resolver os litígios entre os viajantes e as agências de viagens” através de um provedor.
O ex-ministro e ex-deputado não tem “coragem de fazer previsões” sobre a pandemia, sendo certo que tem “efeitos absolutamente devastadores” no setor do turismo.
“Um dos efeitos devastadores também é o facto de cada país puxar para o seu lado, isso tem também um efeito devastador naquela unidade da Europa de que tanto falamos. Porque cada um procura, é assim, é natural, não é bom, mas é natural, procura puxar a brasa à sua sardinha, ‘eu sou um país mais seguro do que tu’ e andamos nisto”, lamenta.
“Há poucas atividades económicas no mundo, se é que há alguma, que seja tão suscetível aos medos, aos acontecimentos que fogem da normalidade, do que o turismo. (…) Basta haver um atentado num país para aquele país durante dois ou três anos deixar de ter o turismo que tinha”, exemplifica o provedor, no cargo desde 2003, e fundador da associação de consumidores Deco.
“É muito difícil fazer previsões. Temos muito o hábito de dizer ‘nunca mais a vida será como foi até agora’, mas já dissemos isto uma data de vezes”, recorda, assinalando “o hábito de viajar, o prazer de viajar, (…) o desejo de conhecer outras coisas” e também o estatuto social e a curiosidade cultural associados ao turismo.
“As viagens tornaram-se muito mais fáceis e as agências de viagens deram para isso um contributo muito grande”, destaca, admitindo que possam vir aí “algumas mudanças”. Por exemplo, “grandes estabelecimentos, com milhares de pessoas, porventura cairão nalgumas dificuldades, as pessoas preferem coisas mais pequenas, que têm como mais seguras, não quer dizer que sejam”, afirma.
Portugal tem “agências [de viagens] pequenas comparadas com as agências que existem na Europa”, mas Vera Jardim acha que “a maior parte delas resistirá”. Porém, “o fim do ano será um momento decisivo para poder fazer algum julgamento sobre o que será o futuro das agências de viagens, da forma de viajar, de todo esse universo e que vivemos até agora”.
O impacto da Covid-19 no turismo é o tema do primeiro debate organizado conjuntamente pelas agências Lusa e Efe, hoje e na quinta-feira, no âmbito do fórum virtual EURAGORA, financiado pelo projeto-piloto europeu Stars4Media, que pretende apoiar a inovação no setor dos media, através da formação e da cooperação transfronteiriça dentro da União Europeia.
Os debates – que serão transmitidos através de uma plataforma online conjunta e das redes sociais de ambas as agências – resultam de uma parceria inédita entre a Lusa e a Efe e juntarão organizações internacionais, comissários europeus, ministros e responsáveis regionais e locais dos dois países, e associações do setor do turismo e dos consumidores.
A abordagem ao tema assenta em dois grandes tópicos: “Segurança, o que esperam os consumidores, como respondem indústria, governos, União Europeia?” (hoje, às 10:00 de Lisboa) e “Reinvenção e oportunidades: sol e praia/urbano e cultural/turismo rural” (dia 16 de julho, às 10:00 de Lisboa), ambos em Aqui e Aqui.
LUSA/HN
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