“Vemos que cada vez mais, em vários países, os efeitos secundários da pandemia sobre os meios de subsistência e a situação alimentar”, disse Jagan Chapagain, secretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FIRC), em entrevista à France Presse.
As medidas de confinamento e o encerramento das fronteiras imposto em vários países para impedir a propagação da pandemia estão a destruir os meios de subsistência das populações e podem expor milhões de pessoas a situações de pobreza.
“Nós sabemos que muitas pessoas dizem que têm de escolher entre o vírus e a fome”, afirma Jagan Chapagain acrescentando “que aqueles que perdem os meios de subsistência podem sentir-se obrigados a deslocar-se assim que as fronteiras comecem a reabrir”.
“Não nos devemos surpreender com o aumento massivo dos movimentos migratórios nos próximos meses ou anos”, sublinhou.
O responsável pede apoio internacional para “aliviar o sofrimento” acrescentando que os argumentos económicos são também “imperativos morais” que devem ser considerados.
“O custo do auxílio prestado aos migrantes em trânsito, quando chegam aos países de destino, é muito maior do que ajudar as pessoas dos próprios países, em questões relacionadas com os meios subsistência, educação ou cuidados de saúde”, afirmou.
O nepalês Japan Chapagain, que dirige a FIRC desde fevereiro, nota também que – no quadro da pandemia – as desigualdades nos cuidados de saúde podem aumentar os movimentos migratórios.
“As pessoas podem vir a sentir que têm melhores oportunidades de sobrevivência do ‘outro lado do mar'”, disse alertando que um dos fatores “importantes” vai ser “a disponibilidade em relação às vacinas”.
A Organização Mundial da Saúde defende “o aceso universal e rápido” à vacina mas muitos países “lançaram-se numa corrida” como os Estados Unidos que já fizeram “pré-encomendas” de milhões de doses.
“Se as pessoas veem que a vacina está, por exemplo, disponível na Europa e não em África, o que é que vai acontecer? Vão tentar ir para onde as doses estejam disponíveis”, disse Chapagain.
Neste momento, as investigações prosseguem em todo o mundo havendo 200 projetos de investigação em desenvolvimento, estando cerca de vinte em fase de testes clínicos.
Mesmo assim, diz o responsável, é preciso garantir que, caso surja uma vacina em 2020, a produção venha a abranger “todo o mundo”.
Recentemente, Chapagain condenou a posição de alguns países que pretendem assegurar a vacinação da própria população antes de outros Estados.
O líder da FIRC sublinha que o vírus “atravessa fronteiras” e que vacinar unicamente uma população de um país sem vacinar os outros ao mesmo tempo “é uma atitude que não faz sentido”.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 627 mil mortos e infetou mais de 15,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.705 pessoas das 49.379 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.
LUSA/HN
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