Depois de ter terminado o ensino médio, em 2013, com o nome no quadro de honra da sua escola, chegou à China em 2014, onde após um ano de curso intensivo de chinês, ingressou na Universidade Normal de Zhejiang no leste da China, na província de Guangdong, próxima de Macau e Hong Kong.
Adaptar-se à China, no início, não foi fácil: “É uma cultura completamente diferente. Eu tinha 17 anos e era a primeira vez que eu saía da minha zona de conforto. Deixei em Angola a minha família, os meus amigos, todo o mundo, para ir para um país desconhecido”, contou à Lusa.
Além da cultura, também o clima e o sistema de educação eram estranhos a Valdemar, que estava também a aprender novas línguas.
Por isso, apesar de ter outros colegas angolanos na universidade onde aprendeu chinês, o jovem decidiu fazer uma imersão total no novo país.
“Falei para mim mesmo: ou tinha oportunidade de continuar a falar português ou de lidar com pessoas que não falavam a minha língua para me obrigar a conversar em inglês e chinês. Preferi isolar-me da população lusófona – angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos – e juntar-me a pessoas que falavam inglês para poder aprender. Foi um processo que achei que seria bom para mim e acabei aprendendo o chinês e o inglês ao mesmo tempo. Já que está na chuva, é melhor se molhar mesmo”, contou à Lusa.
As barreiras que teve de ultrapassar tornaram-no na pessoa que é hoje, sublinhou. “Hoje, eu sinto-me bem morando na China”, afirmou o cientista, cujos planos de futuro não incluem voltar a Angola tão cedo, já que pretende dar continuidade aos estudos no país asiático.
Aos 23 anos, o especialista angolano regressou recentemente ao seu país para dar formação aos técnicos que vão processar as amostras no recém-inaugurado Centro de Diagnóstico Laboratorial de Viana.
Enquanto percorre as diferentes salas, mostra a utilidade do curso intensivo de mandarim, dirigindo-se com à vontade aos colegas chineses, que devolvem respostas em tom sorridente.
Os laboratórios estão preparados para processar até 6.000 testes por dia (3.000 serológicos e 3.000 com base na biologia molecular RT PCR) e dispõem em todas as salas de gabinetes de biossegurança preparados para neutralizar a perigosidade das amostras colhidas.
As amostras entram na sala de extração e passam depois para uma sala de amplificação onde é feita a leitura do RNA.
Na sala de extração cada máquina equivale ao trabalho de dez pessoas e está preparada para analisar 188 amostras por hora, explica Valdemar Tchipenhe.
O projeto Huoyan (‘Olho de Fogo’), da empresa chinesa BGI, visa a construção de laboratórios de biologia molecular em todo o mundo, usados para a deteção da Covid-19.
O projeto já está implementado no Togo e no Gabão, sendo Angola o terceiro país africano a acolher os laboratórios, onde se encontram o cientista angolano e a sua equipa, que conta com nove membros.
“A nossa função é criar os laboratórios, instalar os dispositivos e equipamentos e fazer a calibração dos mesmos e dar formação aos técnicos que aqui estarão a trabalhar”, indicou o jovem, salientando que a deteção “é a melhor arma para combater esse inimigo invisível que é a covid-19”, enquanto a vacina não chega.
“Só testando podemos evitar a contaminação e ajudar a conter o vírus”, reforça, considerando que os laboratórios chineses são uma mais-valia para o governo e para a população, pois permitirá aumentar 10 vezes a capacidade de testagem.
Valdemar Tchipenhe defende também que Pequim tem dado um importante contributo no combate ao vírus: “A China tem ajudado alguns países, sobretudo africanos, não só a nível dos laboratórios para deteção, mas também oferecendo equipamentos de biossegurança e formando novos técnicos que poderão atuar no futuro na deteção de outras patologias”.
O centro, que custou ao Governo angolano sete milhões de dólares (seis milhões de euros), está localizado na Zona Económica Especial, em Viana, nos arredores de Luanda, e foi inaugurado a 10 de setembro.
Além de Luanda serão instalados laboratórios de biologia molecular e serologia nas províncias do Huambo, Lunda Norte e Uíje.
Angola é o país africano lusófono com mais mortes devido à covid-19, registando 6.366 casos e 218 óbitos.
LUSA/HN
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