“É uma suspeita que tenho” por ter “testes positivos” para a presença de anticorpos IgG (Imunoglobulinas G) no sangue de pessoas que reportaram “ter tido sintomas em fevereiro/março”, afirma à agência Lusa o docente da Universidade de Évora (UÉ) Carlos Sinogas.
Os testes serológicos realizados pelo investigador possibilitam avaliar a imunidade de quem possa ter estado em contacto com o vírus e consiste na recolha de uma amostra de sangue que comprova a presença das Imunoglobulinas IgG e IgM (um tipo de proteína que protege contra o vírus).
No rastreio, o docente detetou quatro pessoas, além de uma outra sobre a qual existem “ainda dúvidas”, que têm “anticorpos IgG”, ou seja, estiveram infetadas, mas não sabiam e, agora, lembram-se de ter tido “todos os sintomas característicos da covid-19 em fevereiro/março, quando ainda não havia casos no Alentejo”.
Um dos exemplos é o de um homem que “garante que, desde março, que não sai à rua, por medo do vírus, está positivo e recorda ter tido sintomas em fevereiro/março”, disse o docente e também farmacêutico, aludindo ainda ao caso de uma mulher com “sintomas significativos” na mesma altura e que refere ter ido ao centro de saúde e ter tomado então “seis antibióticos”.
O professor do Departamento de Biologia da UÉ, que é proprietário de uma farmácia em Mora, de onde é natural, ainda não tem resultados definitivos do estudo que resolveu fazer, na sequência do surto surgido em agosto, naquela vila, no âmbito do qual foram infetadas 62 pessoas.
O trabalho, iniciado em meados de setembro, já abrangeu “quase 300 pessoas”, as quais fizeram o teste que consiste numa simples “picada no dedo” como se faz para a “medição da glicemia” e a aplicação de uma gota de sangue num “biosensor”.
Este teste permite “saber se a pessoa tem ou não os anticorpos” contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, explica Carlos Sinogas, prevendo continuar o estudo, mas não por muito mais tempo, porque “qualquer dia surge outro surto e confunde os resultados deste”.
Para este trabalho, o professor universitário revela que não definiu regras de amostragem e que a amostra que tem são “pessoas que quiseram” fazer o teste e que apareceram na sua farmácia através do “passa palavra”.
Carlos Sinogas diz que vai “continuar devagarinho” o estudo serológico na vila de Mora, também tendo em conta as suas “capacidades económicas para pagar os testes”, uma vez que “cada um custa cerca de 10 euros”.
Com o estudo, o promotor quer saber, de entre a população daquela vila alentejana, quem “tem ou não anticorpos contra o coronavírus” e está, por isso, “imunizada”, assim como comparar os seus resultados com os dados que já existem.
“Quis saber se aquilo que acontece a nível nacional e internacional se repercutiu da mesma maneira em Mora ou não e a frequência das pessoas que se infetaram e não foram detetadas, apesar de havido uma testagem muito extensa” na vila, conta, ao justificar a sua motivação.
Além dos quatro casos em Mora que suspeita terem tido a infeção no início da pandemia em Portugal, em fevereiro ou março, o investigador diz ter detetado outras pessoas da vila com anticorpos IgG e que “fazem parte do grupo” de habitantes que não “tiveram sintomas e não foram testados”.
“Pelo menos 50%” das pessoas que fizeram agora o teste serológico com resultado positivo “poderão ter sido infetadas” durante o surto de agosto, mas, na altura, “não foram testadas”, porque “não tiveram sintomas e não estabeleceram contactos de risco”, frisa.
O trabalho também já permitiu identificar dois casais em que apenas um dos elemento foi infetado pelo novo coronavírus.
O investigador pensa, fruto do estudo, que 4% da população da vila tenha anticorpos contra o SARS-CoV-2, uma percentagem que fica “muito longe daquilo que é a imunidade de grupo para permitir evitar a transmissão” do coronavírus.
Quando concluir o trabalho, Carlos Sinogas diz que pretende publicar os resultados em revistas científicas para “dar os contributos possíveis para se compreender melhor tanto a infeção como o vírus”.
LUSA/HN
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