No centro histórico daquela cidade do distrito de Portalegre, Ana Augusto tenta rumar contra o pior dos cenários e, recentemente, até decidiu ampliar o negócio, mudando de instalações.
“Muito difícil [o negócio], mas se não lutamos não sabemos o dia de amanhã”, começou por afirmar à agência Lusa a empresária, sublinhando que os clientes espanhóis, frequentadores assíduos das zonas comerciais, “evaporaram-se”.
No meio de uma crise sanitária, a maioria dos comerciantes lamenta a “desinformação” que tem passado para Espanha em relação às medidas restritivas em Portugal, e no concelho de Elvas em particular, tendo essa situação prejudicado a atividade económica nos últimos tempos.
Portugal está em estado de emergência desde dia 09 deste mês, situação que foi na sexta-feira renovada até 08 de dezembro, havendo recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado e municípios vizinhos.
A medida abrange 191 concelhos, mas no fim de semana passado o concelho de Elvas não constava na listagem, embora o comércio tenha sofrido prejuízos.
“No outro fim de semana disseram que em Elvas estávamos confinados e Elvas ainda não estava confinado e não se viu um espanhol”, lamentou a empresária.
Vítor Meireles é proprietário de um espaço de restauração na Praça da República e, em declarações à Lusa, confessou que a situação não está fácil devido à falta de turistas numa cidade classificada como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
“As coisas não estão fáceis, mesmo a afluência de turistas, não há, o pessoal português também tem algum receio em sair e então as coisas não estão muito fáceis não”, disse.
“Muito poucos [espanhóis] e agora com esta restrição do fim de semana ainda [vai ser] pior. Vê-se muito pouco espanhol aqui na praça a passear, a beber a sua cerveja, a comer, não se vê praticamente ninguém”, acrescentou.
Abel Cortes é proprietário de três lojas de têxteis para o lar em Elvas e está neste negócio há 43 anos, dando emprego a nove pessoas. Lamenta a falta que faz ao comércio local os clientes espanhóis.
“Temos Badajoz à vista, está muito perto de nós, mas não temos espanhóis do lado de cá para fazer as compras, não só da parte da Extremadura, como de todo o resto de Espanha, porque vinham bastante e normalmente mais ao fim de semana, mas neste momento não temos mesmo ninguém”, afirmou.
O comerciante considera que a situação é “bastante difícil”, sublinhando que numa cidade do interior não é fácil gerir três casas comerciais, manter os postos de trabalho, pagar rendas, entre outras despesas mensais.
“É muito complicado gerir, mas temos esperança. A fé é a última coisa a perder”, diz.
O presidente da Associação Empresarial de Elvas, João Pires, traça também à Lusa um cenário “negro”, alertando que a pandemia tem criado um “clima de medo” nos consumidores.
“Comércio, restauração e serviços estão mal porque não há clientes. O clima de medo, de preocupação e de desconfiança é muito grande perante a pandemia e perante as pessoas”, observa.
“Eu acho que vai ser desastroso este final de ano, princípio de 2021, vai ser uma coisa em termos de saúde…mas neste caso estamos a falar em termos económicos, em termos de negócios e de vidas: vai ser desastroso”, lamenta.
Perante este cenário, o responsável acredita que dentro de poucos meses vão mesmo encerrar estabelecimentos comerciais nesta cidade alentejana.
Em Portugal, morreram 3.762 pessoas dos 249.498 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
LUSA/HN
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