África receia que compra de vacinas por países ricos deixe a região para trás

26 de Novembro 2020

A diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África afirmou esta quinta-feira que o continente receia que a pré-encomenda de milhões de vacinas contra a Covid-19 por países ricos prejudique o acesso das nações africanas a estes medicamentos.

Matshidiso Moeti falava durante a conferência de imprensa online sobre a evolução da pandemia de Covid-19 em África, hoje dedicada ao acesso à vacinação contra o novo coronavírus, durante a qual disse esperar que as primeiras vacinas comecem a ser administradas no continente durante o primeiro trimestre do próximo ano.

Numa altura em que existem três candidatas à vacina contra a Covid-19 que demonstram “elevados níveis de eficácia”, são também muitos os países “interessados e determinados em obter a vacina a tempo”, referiu a diretora regional da OMS para África.

Contudo, sublinhou, “os países africanos estão preocupados e esperando que a pré-encomenda de milhões de doses pelos países ricos não prejudique o seu acesso aos fornecimentos”.

Segundo Matshidiso Moeti, a OMS está a trabalhar com os países e parceiros para o continente se preparar para “a maior operação de vacinação no continente e também no mundo”.

Lamentou, no entanto, que, até ao momento, o nível de prontidão dos países africanos ronde os 33%, o que “está muito abaixo do valor de referência desejado de 80%”.

Moeti alertou para a curva da pandemia no continente que “está de novo a subir, à medida que se aproxima a época de férias e de quando as pessoas viajam”.

“É vital que continuemos a praticar as medidas preventivas e que sejam criadas capacidades de resposta ao nível da saúde pública, proativas e de grande escala, para aplanar o aumento dos casos”, disse.

A este propósito, recordou que os ministros da Saúde africanos se comprometeram recentemente a tudo fazer para “assegurar que os países na região não ficam atrás no acesso às vacinas”.

E deixou uma mensagem de otimismo: “Muito foi feito em pouco tempo. Vamos terminar o ano com a esperança de ter uma vacina, mas não podemos descurar as medidas de prevenção”.

Helen Rees, presidente do Grupo Técnico Consultivo Regional Africano de Imunização (RITAG) e da autoridade reguladora dos produtos de saúde sul-africana, assumiu o entusiasmo pelos resultados das vacinas candidatas.

“Pretendemos que as vacinas sejam eficazes e seguras e estamos entusiasmados com os resultados”, afirmou.

Contudo, sublinhou que ainda existem muitos assuntos por decidir, como o número de doses a administrar (uma ou duas) ou a sua atuação em determinados grupos.

Pontiano Kaleebu, diretor do Instituto de Investigação Virológica do Uganda, insistiu na necessidade de os ensaios continuarem para avaliarem a segurança das vacinas.

E referiu que “alguns vetores que estão a ser usados [na investigação da vacina], já foram usados em África, nomeadamente contra o vírus Ébola”, o que poderá ser benéfico para o continente.

A pandemia de Covid-19 já causou 50.628 mortos em África, continente que contabiliza 2.106.931 casos do novo coronavírus, que foi registado pela primeira vez nesta região a 14 de fevereiro, na Nigéria.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.415.258 mortos resultantes de mais de 60 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

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