“É muito bom porque é o sistema imunitário está a lutar e a reconhecer aquela vacina como estranha. Portanto, o que eu deixava aqui como orientação para as pessoas lá de casa é que não tenham medo destas reações adversas, porque isso é o vosso sistema imunitário, no fundo, a lutar e a ser educado contra aquela vacina”, disse João Gonçalves, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, na reunião no Infarmed, que decorre em Lisboa.
Questionado sobre se a imunidade provocada pela vacina tem problemas de segurança, o investigador afirmou que a informação disponível é que “todas aquelas equações” que eram colocadas como efeitos secundários potenciais às vacinas não estão a ocorrer.
“As indicações são que os dados disponíveis de todas as vacinas que nós temos presentes apenas indicam que os efeitos secundários são os efeitos secundários de uma estimulação do sistema imunitário. Portanto, mais um conselho para as pessoas lá de casa, não tenham medo porque a imunidade não vos vai criar efeitos secundários completamente estranhos na vossa vida”, sublinhou na reunião, onde peritos fazem um balanço das medidas tomadas para combater a covid-19 e analisam a evolução da doença no país.
Para o investigador, é preciso continuar a avaliar a imunidade depois de a vacina estar no mercado.
João Gonçalves pediu ainda às pessoas que não tenham medo da forma rápida como a vacina foi alcançada, referindo que “todas as fases necessárias no desenvolvimento das vacinas” foram cumpridas.
“Toda esta avaliação está a ser feita, ao mesmo tempo, concentrada, mas está a ser feita, e, portanto, é necessário que a monitorização continue tal e qual como continua para as outras vacinas”, assegurou.
Portanto, defendeu, “monitorizar é importante, e certamente o Infarmed vai ter orientações para isso, mas monitorizar esta imunidade e a resistência que nós vamos ter às vacinas vai ser muito importante”.
Resumindo, o investigador afirmou que tudo o que se sabe dos benefícios da imunidade à vacina, “claramente se sobrepõem aos riscos da não vacinação”: “vamos ter um menor risco da doença, vamos ter alguns efeitos secundários e vamos ter uma redução da transmissão”.
“Isso é certamente muito importante e seria muito mau para a ciência, muito mau para a humanidade, se nós depois de oito meses de trabalho terrível e intenso do ponto de vista social e de investigação não conseguíssemos ter aqui toda esta imunidade bem instalada e capaz de nos proteger contra este vírus””, vincou.
Sobre a eficácia das vacinas, o especialista alertou que “potencialmente vai haver muita variação de pessoa para pessoa”.
No mesmo sentido, a imunidade da vacina será diferente consoante as pessoas. No caso da idade, por exemplo, é espetável que os idosos tenham menos imunidade.
Tendo em conta que a vacina não vai criar essa imunidade igual para todos e que ainda não se sabe quando será criada imunidade de grupo, João Gonçalves deixa um alerta: “O Trabalho de casa ainda não terminou!”.
Na sua intervenção, António Roldão, do Instituto de Biologia experimental e Tecnologia, afirmou que só no século XXI se assistiu a cerca de 20 surtos de doenças infeciosas.
O investigador adiantou que, com o aumento da mobilidade das populações, com o aumento da produção animal para consumo, a maior interação entre os seres humanos e os animais e pelas mudanças climáticas é expectável que nos próximos anos, nas próximas décadas, se continue a assistir ao aparecimento de novos surtos de doenças infeciosas já existentes como de novas doenças.
Nesse sentido, António Roldão defendeu ser “imperativo”, além de ser “claramente evidente” a necessidade de continuar a fomentar-se o desenvolvimento de processos para a produção de vacinas inovadoras que permitam “cada vez mais ser proativos em vez de ser reativos em termos de vacinas”.
O encontro no Infarmed junta o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e primeiro-ministro, António Costa, políticos e especialistas.
A reunião tem como temas centrais um balanço das medidas tomadas até à data, a tendência da evolução da covid-19 no país e a eventual prorrogação do estado de emergência, nomeadamente o cenário de um plano para a época natalícia.
A pandemia de covid-19 já causou 4.645 mortes em Portugal dos 303.846 casos de infeção confirmados, segundo os últimos dados da DGS.
LUSA/HN
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