Gouveia e Melo, o “submarinista” que assume a missão de vacinar os portugueses

3 de Fevereiro 2021

O novo coordenador da `task force´ do plano de vacinação dedicou mais de quatro décadas da sua vida à Marinha, um “submarinista” que assume agora uma nova missão: vacinar cerca de 7,5 milhões de portugueses contra a covid-19.

O vice-almirante Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, adjunto para o Planeamento do Estado-Maior-General das Forças Armadas, tem estado desde o início da pandemia a preparar e a planear as ações conjuntas das Forças Armadas no terreno, nos lares de idosos, nas escolas e em apoio às autoridades de saúde.

O novo coordenador da `task force´, que substituiu hoje Francisco Ramos no cargo, está na dependência do almirante Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), oficial que dirige toda a resposta militar à pandemia sob a coordenação e a tutela do ministro da Defesa Nacional.

Com formação de base como “submarinista” – foi chefe da Esquadrilha de Submarinos, a qual integrou entre setembro de 1985 e até 1992 -, o vice-almirante tem um longo percurso no Ramo.

Henrique Gouveia e Melo, nascido em Moçambique em 1960, ingressou na Escola Naval em setembro 1979 e navegou nos submarinos Albacora, Barracuda e Delfim, exercendo diversas funções operacionais como oficial de guarnição e de comando.

Tem ainda vários cursos de especialização, entre os quais de comunicações e de guerra eletrónica, o que o torna uma autoridade na matéria no Ramo, sendo também especialista em informações.

Foi porta-voz da Marinha e, antes de ser chamado para o EMGFA, era, desde janeiro de 2017, Comandante Naval na Marinha e, antes disso, chefe de gabinete do então Chefe de Estado-Maior da Marinha, almirante Macieira Fragoso.

Como comandante naval da Marinha, foi o responsável pelos trabalhos de recuperação pelo seu ramo em Pedrógão, na altura dos fogos, em 2017.

Hoje, em declarações à Lusa sobre a nomeação do novo coordenador das ‘task force’, o ex-Chefe-de-Estado Maior da Armada Almirante Melo Gomes disse que “é uma missão de grande significado patriótico, muito difícil e ninguém faz nada sozinho. Precisa de uma equipa que o apoie. Não para seu protagonismo, mas para o interesse nacional, é preciso que todos se entendam sobre este aspeto”.

Segundo Melo Gomes, nas alturas mais complicadas, vem à “superfície a necessidade de recorrer a quem sabe e tem condições para exercer os cargos e os militares têm condições para fazer um planeamento adequado, desde que tenham uma equipa. Os militares têm sentido de serviço e disciplina”.

Sendo inédito no Portugal recente a nomeação de um militar para funções civis, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo era considerado no meio militar um dos possíveis sucessores do atual Chefe de Estado-Maior da Armada, Mendes Calado, cujo mandato termina em março.

No percurso da sua carreira, Gouveia e Melo foi ainda distinguido com diversas condecorações, como a Ordem Militar de Avis – Grau Comendador, oito Medalhas Militares de Serviços Distintos, a Medalha de Mérito Militar de 1.ª, 2.ª e 3.ª Classe, a Medalha da Defesa Nacional de 1.ª Classe, a Medalha Militar de Cruz Naval de 3.ª Classe, a Medalha Militar de Comportamento Exemplar – ouro e, mais recentemente, a Ordem de Mérito Marítimo por parte da Marinha Francesa e a Medalha da Ordem do Mérito Naval – Grau Grande Oficial, atribuída pela Marinha do Brasil.

Em comunicado divulgado hoje, o Ministério da Saúde esclareceu que a demissão de Francisco Ramos decorre de “irregularidades detetadas pelo próprio no processo de seleção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da comissão executiva”.

Numa declaração enviada às redações, Francisco Ramos acrescentou que as irregularidades diziam respeito ao processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde daquele hospital.

LUSA/HN

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