O simpósio subordinado ao tema “Os cuidados de retina fazem a diferença” permitiu o debate sobre os principais constrangimentos dos profissionais de saúde e dos hospitais na prestação de cuidados médicos de oftalmologia durante a pandemia. No entanto, os intervenientes sublinharam o esforço de alguns hospitais que se “destacaram pela gestão e acompanhamento exemplares dos doentes de oftalmologia neste período”.
No evento foram mencionados três exemplos de boas práticas. É o caso do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) que, durante o primeiro confinamento, promoveu um estudo com a participação de 769 doentes – que se traduz em 927 olhos – para determinar a taxa de assiduidade dos doentes em tratamento intravítreo, nesta fase, e quais as repercussões da pandemia na acuidade visual dos doentes em tratamento.
Segundo Ângela Carneiro, oftalmologista no CHUSJ, uma das conclusões do estudo indica que os doentes com Degenerescência Macular Relacionada com a Idade (DMI) neovascular tiveram taxas de assiduidade mais baixas, ou seja, menor acompanhamento como consequência da Covid-19. A especialista da retina sublinhou, no entanto, que o verdadeiro impacto da pandemia em doentes com DMI neovascular carece de ser apurado num estudo mais aprofundado.
Bernardete Pessoa, do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), abordou a temática da Retinopatia Diabética: Edema Macular Diabético (EMD) e Retinopatia Diabética Proliferativa (RDP), e apresentou o protocolo adotado pelo CHUP em contexto de pandemia. A oftalmologista lembrou que o tratamento precoce e eficaz destes doentes é crucial, uma vez que a RDP é a principal causa de cegueira evitável na população ativa e o EMD a causa mais comum da perda de visão.
O CHUP desenvolveu um estudo para avaliar o impacto da pandemia e a eficácia do protocolo adotado pelo hospital no tratamento dos doentes com EMD, comparando o período de 22 de março a 2 de maio de 2020 (primeiro confinamento) ao período homólogo de 2019. Bernardete Pessoa indicou que, no total, foram realizadas mais injeções intravítreas (IIV) em 2020 do que em 2019 e no período do confinamento foi possível efetuar 272 IIV. Na mesma altura, 132 doentes adiaram o tratamento, mas após este adiamento o CHUP conseguiu alargar o tratamento a 51% dos doentes no período pós confinamento
Por fim, António Campos partilhou a sua experiência no Centro Hospitalar de Leiria (CHL), que necessitou de suspender a cirurgia de catarata durante um mês e meio na primeira onda da pandemia. Contudo, na terceira vaga o hospital já não registou qualquer alteração nas atividades relacionadas com o acompanhamento e tratamento de doenças oftalmológicas, o que representa um resultado extraordinário na mitigação do impacto da pandemia da Covid-19 nestes doentes, em muito sustentado pela implementação de protocolos de seguimento e tratamento das patologias da retina.
A 2.º Reunião Virtual do GER decorreu este sábado e contou com a participação de diversos especialistas do panorama nacional e internacional na área de oftalmologia, que debateram diversos temas relacionados com a retina.
PR/HN/Vaishaly Camões
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