Investigadores criam modelo que distingue principais interações de genes com organismo

16 de Março 2021

Investigadores de Portugal e dos Estados Unidos criaram um modelo computacional que permite distinguir, entre todas as interações dos genes com o organismo, quais as mais diretas, o que esperam poder vir ajudar no combate a doenças.

A equipa, que inclui o investigador Luís Rocha, do Instituto Gulbenkian de Ciência, olhou para bases de dados elaboradas ao longo de anos por cientistas de todo o mundo sobre as redes bioquímicas e conseguiu construir um modelo que emprega inteligência artificial para detetar as ligações redundantes.

“Apesar de haver um gene que, supostamente, recebe informação e só atua no organismo mediante interações com outros, na realidade, ele só interage com poucos”, disse Luís Rocha à agência Lusa, referindo que esta redundância é “um princípio da biologia para as coisas serem robustas e resilientes” e se verifica em organismos como as moscas e os seres humanos.

O modelo, descrito num artigo publicado na revista da Academia Nacional das Ciências dos Estados Unidos, permite “tirar toda a redundância e revelar os canais preferenciais” de regulação.

“Conseguimos explicar porque é que certos medicamentos não funcionam e outros funcionam melhor”, indicou, exemplificando com o estudo de uma rede de interações característica de casos de cancro da mama, que conseguiram analisar totalmente.

Esse foi uma das redes que estudaram, o das células do cancro da mama, além de outro relativo à planta Arabidopsis thaliana, um organismo modelo usado em investigação.

Luís Rocha frisou que o método que criaram, disponível à comunidade científica, terá que ser comprovado por outras investigações.

“O que gostaríamos de fazer é desenvolver essas redes para pacientes específicos, porque a forma como os genes interagem no corpo de cada um é diferente. Isso vê-se hoje na resposta à Covid-19, em que há pessoas que ficam doentes e outras não, a mesma coisa com o cancro”, afirmou.

Ao desenvolver uma rede de interações bioquímicas para cada paciente, “a vantagem seria que, antes de se decidir qual o medicamento a dar, analisando a rede poderia saber-se qual o medicamento ideal para aquela pessoa”, disse o investigador.

“O nosso derradeiro objetivo é sermos capazes de identificar genes e outros elementos moleculares que consigam reverter uma célula doente, especialmente células cancerígenas, de volta a um estado saudável”, segundo Rion Brattig Correia, especialista em redes complexas e medicina digital na equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência.

A investigação foi uma parceria do Instituto Gulbenkian, da Luddy School of Informatics, Computing and Engineering e da Northeastern University, nos Estados Unidos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Maioria dos médicos já atingiu as 150 horas extras nas urgências

A Federação Nacional dos Médicos (Fnam) avançou esta sexta-feira que a esmagadora maioria dos médicos que faz urgência já atingiu as 150 horas extraordinárias obrigatórias, reclamando “respostas rápidas”, porque “já pouco falta para o verão” e as urgências continuam caóticas.

Ordem convida URIPSSA e URMA para debater situação dos enfermeiros das IPSS

A Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros (SRRAAOE) formalizou esta semana um convite no sentido de requerer uma reunião conjunta entre a Ordem dos Enfermeiros, a União Regional das Instituições Particulares de Solidariedade Social dos Açores e a União Regional das Misericórdias dos Açores.

SIM diz que protocolo negocial com tutela será assinado em maio

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou esta sexta-feira que o protocolo para iniciar as negociações com o Governo será assinado em maio, esperando que ainda este ano se concretize um calendário de melhoria das condições de trabalho dos médicos.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights