Estudo conclui que reinfeção é rara em seis meses mas mais frequente em pessoas acima dos 65 anos

18 de Março 2021

A reinfeção com Covid-19 é rara num período de seis meses, mas mais frequente em pessoas acima dos 65 anos, concluiu o primeiro estudo de imunidade em larga escala, publicado esta quarta-feira na revista científica The Lancet.

O estudo, conduzido durante as duas primeiras vagas da doença na Dinamarca, confirmou que apenas uma pequena percentagem (0,65%) dos indivíduos teve testes de PCR positivos em ambas as vagas da doença, enquanto o número de pessoas que testaram positivo após terem tido um primeiro teste negativo subiu para 3,27%.

Segundo os investigadores, estes valores traduzem-se numa proteção de 80% contra a reinfeção em pessoas que contraíram a doença nos últimos seis meses, mas a proteção entre a população com mais de 65 anos testada situa-se em apenas 47%, indicando que é mais suscetível a contrair novamente a Covid-19.

Os autores do estudo não encontraram provas de que a proteção contra a reinfeção diminuísse dentro do período de acompanhamento de seis meses.

As conclusões do estudo, refere o artigo sobre a investigação publicado na The Lancet, destacam a importância das medidas de proteção das pessoas idosas durante a pandemia, tais como distanciamento social e prioridade no acesso às vacinas, além de sugerirem que as pessoas que já contraíram o coronavírus SARS-CoV-2, especialmente as mais velhas, também devem ser vacinadas.

Outros estudos recentes indicaram que as reinfeções são raras e que a imunidade à Covid-19 pode durar pelo menos seis meses, mas o grau de proteção que a contração da doença confere contra futuras reinfeções continua a ser pouco conhecida pelos investigadores, diz a publicação.

“Os resultados enfatizam a importância de as pessoas aderirem às medidas implementadas para se manterem seguras a elas próprias e aos outros, mesmo que já tenham tido Covid-19. As nossas conclusões também podem sustentar estratégias de vacinação mais amplas e a flexibilização das medidas de confinamento”, afirmou um dos responsáveis pelo estudo, Steen Ethelberg, do Statens Serum Institut.

Os autores do estudo analisaram dados recolhidos como parte da estratégia nacional de testagem da Covid-19 da Dinamarca, através da qual mais de quatro milhões de pessoas, ou seja, dois terços da população (69%), foram testadas em 2020.

No entanto, os autores destacam que o período no qual o estudo foi realizado não permitiu estimar a proteção contra a reinfeção com novas variantes da Covid-19 e que são necessários mais estudos para perceber a forma com as diferentes estirpes podem afetar as taxas de reinfeção.

Ainda assim, outra investigadora envolvida no estudo, Daniela Michlmayr, sublinhou que “não foi identificado nada que indique que a proteção contra a reinfeção diminua dentro de um período de seis meses”.

“Os coronavírus relativamente parecidos SARS e MERS demonstraram ambos conferir proteção imunológica contra reinfeção durante pelo menos três anos, mas é preciso uma análise à Covid-19 contínua no tempo para perceber os seus efeitos a longo prazo nas probabilidades de se voltar a contrair a doença”, frisou a investigadora.

Entre as limitações do seu próprio estudo, os autores lembram não foi possível aferir se a severidade dos sintomas da Covid-19 tem influência no grau de proteção contra a reinfeção, uma vez que os dados clínicos detalhados apenas são recolhidos em doentes hospitalizados.

Num comentário ligado à publicação deste estudo, os professores Rosemary J. Boyton e Daniel M. Altmann, do Imperial College de Londres, referem que “comparando com os relatos de casos de reinfeção mais formais” que fazem a reinfeção parecer “um evento extremamente raro”, os dados apresentados são “relativamente alarmantes”.

“Apenas 80% de proteção contra a reinfeção em geral, diminuído para 47% em pessoas com 65 anos ou mais, são números mais preocupantes do que os oferecidos em estudos anteriores. Confirmam que, para o SARS-CoV-2, a esperança na imunidade de grupo através de infeções naturais pode não estar ao nosso alcance e que um programa global de vacinação com vacinas altamente eficazes é a solução mais duradoura”, concluíram os investigadores.

LUSA/HN

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