“O que temos vindo a sentir que se alterou é o surgimento de maiores dificuldades económicas, estas famílias já sofrem um impacto económico pelo facto de terem um doente e neste momento estão a sofrer como toda a população com muitos casos de desemprego, situações de ‘lay off’, de situações de suspensão de contratos”, o que leva “a uma precariedade económica acrescida relativamente à situação que já tinham”, disse à agência Lusa a diretora-geral da Acreditar – Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro.
Devido a esta situação, a associação tem vindo a ter “cada vez mais pedidos de apoio económico e de apoio alimentar”, disse Margarida Cruz, que falava a propósito dos 18 anos da Casa Acreditar de Lisboa, que se assinalam hoje.
Com as restrições impostas pela pandemia, a Acreditar deixou de distribuir desde março de 2020 cabazes de alimentos e passou a dar cartões de supermercado porque é de “mais fácil manuseamento e é mais higiénico”, além de as pessoas poderem comprar o que necessitam.
A pandemia também obrigou a alterações nas três Casas da Acreditar em Lisboa, Porto e Coimbra que acolhem famílias de crianças e jovens com cancro e que têm de sair da sua área de residência para acompanhar os tratamentos oncológicos dos filhos.
Com a pandemia, a vivência das famílias alterou-se: “deixámos de ter voluntariado nas casas, criámos equipas para estarem nas casas, mas em rotatividade, portanto a nossa presença junto das famílias é muito mais distante do que era anteriormente”.
Todos os cuidados foram “muito reforçados” e tomadas medidas de segurança para evitar o contágio por Covid-19.
“Criámos uma zona de armazenamento de sapatos da rua, as pessoas têm que se desinfetar, têm que trocar as máscaras, como todos nós, mas no caso deles com o medo acrescido por terem filhos doentes”, contou.
Principalmente no início da pandemia, os pais tinham “quase pavor de que o filho ou filha apanhassem covid e que isso viesse a prejudicá-los nos tratamentos ou até no evoluir da doença”.
Ao longo do tempo, foram aparecendo vários estudos que indicavam não havia evidência que estas crianças tivessem uma probabilidade maior de apanhar a Covid-19 do que as outras, o que os “tranquilizou de alguma forma dentro daquilo que é possível tranquilizar um pai ou uma mãe de uma criança com cancro”.
“De vez em quando, tivemos uns sustos que levaram a ter de testar toda a gente, a isolar toda a gente nos quartos, mas felizmente não tivemos nenhum problema, não passaram de sustos e isso é bom”, comentou Margarida Cruz.
Houve também fases durante a pandemia em que sentiram que “a moral das pessoas estava muito em baixo” e socorreram-se de psicólogos para lhes dar um apoio e fazer uma reunião com as famílias que já estão “muito fragilizadas”.
“Estas casas permitem olhar com atenção para as características destas famílias e dar-lhes apoio à medida das suas necessidades, não é igual para todos, é na medida das suas necessidades”, disse Margarida Cruz.
LUSA/HN
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