Inicialmente programado para 2020, o congresso, sediado no Rio de Janeiro, foi adiado para este ano e passou a decorrer de forma virtual, devido à covid-19. Contudo, essas estão longe de ser as únicas alterações a que o maior evento mundial de arquitetura e urbanismo foi submetido: passou também a adquirir a responsabilidade, e a necessidade, de propor reflexões e soluções para as cidades após o ambicionado fim da pandemia.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do comité executivo do Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA2021Rio), o brasileiro Sérgio Magalhães, explicou que nunca o tema do evento, “Todos os mundos. Um só mundo” fez tanto sentido como agora.
“A pandemia tornou quase que premonitório o tema do congresso: ‘Todos os Mundos. Um só Mundo’. Pareceu-nos que, mais do que nunca, a pandemia tornou evidente que todos nós somos interdependentes uns dos outros. Os países, os continentes, são interdependentes e a influência de uns sobre outros torna-se muito forte”, avaliou.
Segundo o arquiteto e urbanista brasileiro, o congresso passou a ter, além dos objetivos originais, em que se discutiria as fragilidades e desigualdades das cidades contemporâneas, a necessidade de dizer “algo mais”, ouvindo o que as pessoas envolvidas com “a produção do espaço construído pensam sobre as cidades pós-pandemia”.
“Então, o congresso adquiriu, além do lugar de reflexão inicialmente previsto, o papel, a responsabilidade e a necessidade de propor, em cima das reflexões que vierem a ser feitas no âmbito dos quatros eixos temáticos definidos”, que são “fragilidades e desigualdades, mudanças e emergências, diversidade e mistura, e transitoriedade e fluxos”, explicou Sérgio Magalhães.
“Estamos todos convencidos de que no pós-pandemia haverá um novo tempo, haverá a necessidade de se construir novas estruturas culturais, que possam dar sustentação a uma sociedade menos desigual, mais comprometida com a humanidade e com a solidariedade. O congresso passa a ter essa responsabilidade de recolher essas reflexões e consolidá-las como propostas”, frisou o arquiteto.
Ainda de acordo com o presidente do comité, trata-se de uma pretensão “absolutamente grande”, “até exagerada”, mas realçou: “É função da cultura dizer o que deseja para o futuro e nós queremos fazer um mundo melhor”.
A primeira “semana aberta” do congresso decorreu entre 22 e 25 de março, sob o eixo “fragilidades e desigualdades”, e reuniu nomes de peso no cenário global da Arquitetura e do Urbanismo, atraindo 35.600 participantes de 159 países, de acordo com a organização, que salientou que, só Angola, teve 400 participantes.
Ao longo dessa semana foram abordados temas como “A arquitetura da inclusão social”, pela suíça Fabienne Hoelzel, “O que é mesmo periferia?”, pelo norte-americano Alfredo Brillembourg, e “Arquitetura na favela”, pelo brasileiro Jorge Jáuregui.
Segundo Sérgio Magalhaes, estas são questões que não se limitam aos países menos desenvolvidos, mas que abrangem também grande parte das nações ricas.
“Diria que o hemisfério sul, na grande maioria, tem essas questões. Mesmo cidades de países ricos, fortes, têm fragilidades e desigualdades muito importantes, como por exemplo a segregação social, que enfraquece a coesão social”, explicou o brasileiro.
A segunda “semana aberta” tem início na segunda-feira, com o tema “diversidade e mistura”.
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