A informação foi confirmada pelo diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, durante o seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro, que investiga alegadas omissões das autoridades do país face à pandemia.
Segundo Barra Torres, a discussão sobre a mudança na bula ocorreu numa reunião no Palácio do Planalto, sede do Governo em Brasília, e contou com a participação do então ministro da Casa Civil, general Braga Netto, da médica Nise Yamaguchi, entre outras pessoas.
A reunião já havia sido mencionada no depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, na semana passada, que informou ter visto uma minuta de decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina
“Eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora (Nise Yamaguchi), de facto, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, relatou Barra Torres, escolhido por Bolsonaro para presidir à Anvisa.
Barra Torres admitiu que teve uma reação “um pouco deselegante” ao rejeitar a ideia.
“Esse documento foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, que provocou uma reação um pouco deselegante minha, de dizer que aquilo não poderia ser. Quem pode modificar uma bula de medicamento registado é a agência reguladora do país, desde que solicitado pelo detentor do produto”, disse, frisando que rejeitou discutir mais esse assunto.
Apesar de esse fármaco não estar certificado cientificamente contra a doença, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem defendido amplamente o seu uso, desde o início da pandemia.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, estudos feitos até ao momento apontam que a cloroquina não deve ser usada contra a Covid-19.
Um dos principais temas abordados pelos senadores no depoimento de Barra Torres foi a recusa, pela Anvisa, da importação da vacina russa Sputnik V.
O presidente da Anvisa negou que tenha sofrido algum tipo de pressão do Governo sobre o assunto e ressaltou que se trata de uma situação puramente regulatória, que não deve prejudicar as relações entre Brasil e Rússia.
“É muito importante que se entenda que essa negativa de autorização excepcional de importação não deve somar a essa marca Sputnik V nenhum pensamento negativo. Essa é uma marca do processo. O que conclamo é que, tão logo essa situação seja, e esperamos que seja resolvida, que não se credite a essa vacina nenhuma característica ruim”, afirmou.
Barra Torres expôs ainda as divergências com Jair Bolsonaro em relação a métodos de combate à pandemia.
Questionado se partilha do posicionamento do Presidente, que rejeita as medidas de distanciamento social e a utilização de máscara, Barra Torres ressaltou a “amizade” que mantém com Bolsonaro, mas salientou que a conduta do mandatário difere da sua.
Ao encerrar a reunião de terça-feira, o presidente da CPI, senador Omar Aziz, disse que ficou claro o posicionamento da Anvisa a favor da ciência.
O próximo encontro da comissão de inquérito será na quarta-feira, para recolher o depoimento do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten.
O Brasil, um dos países mais afetados pela pandemia em todo o mundo, totaliza 425.540 e mais de 15,2 milhões de casos.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 3.306.037 mortos no mundo, resultantes de mais de 158,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
LUSA/HN
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