HRW denuncia falta de condições para encerrar campos de deslocados no Iraque

3 de Junho 2021

A Human Rights Watch (HRW) denunciou esta quinta-feira que os recentes encerramentos de campos de deslocados iraquianos “privaram milhares de pessoas” de serviços essenciais durante a pandemia e que o governo iraquiano desenvolveu planos inadequados para o seu regresso.

Em comunicado, a organização de defesa dos direitos humanos afirma que o plano do governo iraquiano para o regresso a casa dos deslocados durante os combates contra o grupo jihadista do autoproclamado Estado Islâmico entre 2014 e 2017 não pode ser bem sucedido sem a garantia de que as pessoas podem voltar em segurança e com pleno acesso aos serviços básicos.

A HRW recordou que o governo aprovou em março passado um plano nacional para fazer face aos deslocamentos no Iraque, mas mesmo antes disso já tinha encerrado cerca de 16 campos que deixaram pelo menos 34.801 pessoas deslocadas “sem garantias de poderem regressar a casa em segurança”.

Segundo o comunicado, a partir de hoje, apenas dois campos permanecem abertos em áreas controladas por Bagdade, um na província de Nineveh (norte) e outro em Anbar (oeste), embora as autoridades estejam a acelerar o processo para os fechar.

O projeto de encerramento dos campos de deslocados começou em meados de outubro de 2020, em plena pandemia de Covid-19, afetando milhares de residentes destes campos, a maioria dos quais mulheres.

Os deslocados também enfrentam obstáculos administrativos e muitas das famílias sofrem estigmatização, estando ligadas ou identificadas como simpatizantes do Estado Islâmico, o que os impede de obter documentos de identidade ou cartões de racionamento.

Do mesmo modo, algumas autoridades locais estão a excluir estas famílias alegadamente ligadas ao grupo terrorista de todos os tipos de ajuda e compensação.

“Enquanto muitas famílias solicitaram ajuda mas ainda não a receberam, as autoridades estão a impedir algumas famílias alegadamente simpatizantes do Estado islâmico de se candidatarem às ajudas. Como resultado, muitos não têm recursos para reconstruir as suas casas”, segundo a HRW.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos dois terços dos deslocados regressaram às suas zonas de origem, mas muitos deles não puderam regressar às suas casas porque foram completamente destruídas.

Além disso, cerca de um terço dos regressados não goza de alojamento seguro e digno e é muito vulnerável, em parte também porque os residentes daquelas zonas temem o regresso dos deslocados, devido a um possível ressurgimento do grupo Estado Islâmico.

Assim, as tensões sociais, a insegurança, a presença de artefactos explosivos e outros restos de combate, e a falta de documentação, de serviços básicos e de oportunidades de subsistência continuam a ser impedimentos para o regresso dos deslocados.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Ordem convida URIPSSA e URMA para debater situação dos enfermeiros das IPSS

A Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros (SRRAAOE) formalizou esta semana um convite no sentido de requerer uma reunião conjunta entre a Ordem dos Enfermeiros, a União Regional das Instituições Particulares de Solidariedade Social dos Açores e a União Regional das Misericórdias dos Açores.

SIM diz que protocolo negocial com tutela será assinado em maio

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou esta sexta-feira que o protocolo para iniciar as negociações com o Governo será assinado em maio, esperando que ainda este ano se concretize um calendário de melhoria das condições de trabalho dos médicos.

Victor Ramos: SNS precisa de uma “equipa de pilotagem”

O Serviço Nacional de Saúde precisa de um órgão de coordenação técnica e estratégica que não se confunda com a equipa política, defende o anterior presidente da Fundação para a Saúde, Victor Ramos. Trata-se de uma equipa de pilotagem de um serviço extremamente complexo, “muito necessária para evitar os ziguezagues, sobretudo descontinuidades e perdas de memória”.

Lucro da Sanofi cai 43% para 1.333 ME no 1.º trimestre

A Sanofi, empresa que opera na área da saúde e que tem presença em Portugal, registou 1.333 milhões de euros de lucro no primeiro trimestre, uma descida de 43,2% relativamente aos primeiros três meses de 2023, foi anunciado.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights