Portugal perto do limite da população-alvo da vacinação

4 de Setembro 2021

Portugal está a chegar ao limite da população que pode ou quer ser vacinada contra a covid-19, afirma em entrevista à agência Lusa o coordenador da 'task-force', vice-almirante Gouveia e Melo.

“Estamos a chegar ao limite do público-alvo para ser vacinado”, indica, apontando que a meta de 85% da população portuguesa com vacinação contra a covid-19 completa deverá ser atingida até ao fim do mês, disse à Agência Lusa o coordenador da ‘task-force’, vice-almirante Gouveia e Melo.

O processo está “mesmo já no fim, tirando as crianças dos 0 aos 12 anos, que são entre 11% e 12% [da população], e havendo 03% a 04% de pessoas que recusam a vacina”, diz. Isso significa que não teremos muito mais população para vacinar”, referiu o militar em entrevista à Lusa.

Este fim de semana, dever-se-á atingir o patamar de 85% da população elegível para ser vacinada com pelo menos uma dose administrada. Olhando para o futuro, Gouveia e Melo defende que “não é necessária uma ‘task-force’” para além da missão que está prestes a finalizar, quer para fazer reforços de vacinação quer para a eventualidade de a vacinação contra a covid-19 se tornar uma rotina regular.

“O que está recomendado é uma vacinação reforçada para pessoas que estão imunossuprimidas. Estamos a falar num universo de, no máximo, 100 mil pessoas, se calhar até inferior”, salienta.

Garante que “neste momento há reserva de vacinas para essa terceira dose”.

A ‘task-force’ que liderou foi “uma máquina montada de forma extraordinária para um processo extraordinário”, reconhece Gouveia e Melo, mostrando-se convencido que uma campanha anual de reforços de vacinação poderá ser assegurada pelos cuidados de saúde primários: “Já o faziam para a vacinação da gripe e poderão fazê-lo”.

Ao cabo do que considera “uma batalha com prazo, o mais curto possível para cumprir um plano de vacinação” com duas doses para a maior parte da população, o oficial general da Armada reconhece alguns momentos de impasse ao longo de nove meses.

Um desses pontos aconteceu com a incerteza sobre efeitos secundários da vacina Oxford/Astrazeneca, cuja administração chegou a ser suspensa e cujo uso acabou por ficar limitado a pessoas com mais de 60 anos.

“Não consigo dizer se houve uma guerra comercial [entre fabricantes de vacinas]. Às vezes, parecia. Tivemos que viver com limitações que apareceram em certas alturas do processo de vacinação e tivemos que o adaptar a essas limitações, com sucesso”, argumenta.

“Houve momentos em que nos faltaram vacinas e o nosso ritmo não era aquele para o qual tínhamos capacidade. Depois, quando apareceram as vacinas, o ritmo aumentou. Quando já estávamos a chegar ao fim do processo de vacinação, tendo vacinas e capacidade, faltavam as pessoas. Mas nós cumprimos. Daqui para a frente estaremos a vacinar três a quatro mil pessoas por dia em todo o país”, salienta.

Além de todo o pessoal de enfermagem, médicos, administrativos e todos os militares, Gouveia e Melo destaca a importância das autarquias, que “tiveram um papel extraordinário neste processo: disponibilizaram espaços, recursos humanos e recursos materiais”.

“Sem [as autarquias] teria sido muito difícil. Nós estamos a operar entre as 4.500, 5.000 pessoas todos os dias nos centros de vacinação, muitas contratadas pelas autarquias, muitas voluntárias”, destaca, apontando ainda que o poder local permitiu montar os mais de 300 centros de vacinação “mais abertos, espaçosos, arejados e mais adequados a este tipo de vacinação” fora dos centros de saúde.

Para Gouveia e Melo, o ritmo da vacinação acabou por ditar o ritmo da progressão da pandemia em Portugal, sobretudo a partir do momento em que a variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2 atingiu o país.

“Nós tivemos a variante Delta muito cedo. Quando atingimos cerca de 55% das segundas doses, já com a variante Delta, notou-se uma quebra da incidência, que deixou de aumentar e começou a cair. O processo de vacinação foi combatendo sistematicamente a incidência e ajudando a combatê-la. Neste momento, estamos a ganhar. Apesar do desconfinamento, apesar de haver muita mobilidade, férias, estrangeiros em Portugal, a incidência está a baixar”, destaca o vice-almirante.

Com o novo ano letivo prestes a começar, Gouveia e Melo admite que “este vírus gosta de ajuntamentos e que “é natural” que se assista a um aumento de casos, mas afirma-se otimista: “Estou convencido que com a taxa de vacinação que nós temos na população, a incidência não aumentará muito, poderá aumentar temporariamente, mas vai cair naturalmente”.

LUSA/HN

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