“Certamente tem impacto na produção e armazenamento de grãos”, explicou à agência Lusa Cao Yang, alto quadro das reservas de grãos da China.
“O futuro das alterações climáticas é muito imprevisível e, por isso, devemos atribuir-lhe grande importância. É um teste para todo o mundo”, realçou o também professor da Universidade de Agricultura e Silvicultura da Universidade de Zhejiang, no leste da China.
Níveis recorde de precipitação registados este verão em Henan, província líder na produção agrícola da China, causaram mais de 300 mortos e obrigaram à retirada de 1,5 milhão de pessoas.
As perdas económicas diretas ascenderam a 14.269 milhões de yuans (1.858 milhões de euros). Fenómenos semelhantes ocorreram na Alemanha e Bélgica no mesmo período.
O país asiático alimenta quase 19% da população mundial com apenas 8,5% das terras aráveis do mundo. Em comparação, o Brasil, por exemplo, tem quase 7% das terras aráveis para 2,7% da população mundial.
Estes números tornam a segurança alimentar ou a gestão das reservas de grãos ou proteína animal em questões de alto interesse para Pequim, explicou Li Peiwu, o diretor do laboratório nacional da China para experiências agrícolas, à agência Lusa.
“Esta tem sido uma questão para a China desde os tempos antigos”, apontou.
“O Governo chinês sempre atribuiu grande importância à segurança alimentar. O secretário-geral [do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping], costuma dizer que os chineses devem segurar firmemente as tigelas de arroz com as suas próprias mãos”, descreveu.
Este ano, o país asiático promulgou uma ampla lei, destinada a reduzir o desperdício de alimentos.
Ao comer fora, os anfitriões chineses tradicionalmente pedem comida em excesso, como forma de demonstrar hospitalidade aos convidados, mas os restaurantes podem agora cobrar uma taxa extra aos clientes que desperdiçam grande quantidade de comida.
Os estabelecimentos que encorajam pedidos excessivos recebem, primeiro, um aviso e, de seguida, uma multa de até 10 mil yuans (1.320 euros) por reincidência.
Segundo estimativas oficiais, a restauração é responsável pelo desperdício de cerca de 18 milhões de toneladas de alimentos por ano no país asiático, o suficiente para alimentar até 50 milhões de pessoas, de acordo com a Academia de Ciências Sociais da China.
Mas o retalho representa apenas metade do problema. Uma quantidade equivalente é desperdiçada durante a fase de produção, ou colheita, fixando o total das perdas em cerca de 35 milhões de toneladas.
“Para reduzir as perdas de grãos, devemos contar com o progresso científico e tecnológico (…) no processo produtivo, através da semeadura de precisão, melhoria do nível de mecanização da colheita, e aplicação de conceitos de agricultura inteligente e aprimoramento da capacidade e funcionalidade das instalações de armazenamento”, explicou Li Peiwu.
A campanha contra o desperdício atingiu também figuras que se tornaram célebres nas redes sociais pelos seus vídeos a devorar grandes quantidades de comida.
Introduzido a partir da Coreia do Sul e do Japão, as transmissões ao vivo de pessoas a comer compulsivamente popularizaram-se rapidamente na China.
As principais plataformas de transmissão de vídeo da China, incluindo o Douyin, a versão chinesa do TikTok, anunciaram, porém, que vão punir utilizadores que desperdiçam comida nas suas transmissões.
O desperdício de alimentos é também uma grande preocupação para o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, que alertou, no ano passado, que as interrupções na cadeia de abastecimento de alimentos, causadas pela pandemia da Covid-19, colocam comunidades vulneráveis num risco ainda maior de desnutrição e fome.
LUSA/HN
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