MSD distinguiu casos clínicos nas áreas de CMV e bactérias Gram-negativo no ID Clinical Cases

13 de Novembro 2021

Um caso clínico sobre o tratamento de mielite transversa por vírus citomegálico num doente imunocompetente e uma cirurgia “fora da caixa” que permitiu tratar uma doente com infeções respiratórias sucessivas derivadas de agentes multirresistentes foram os vencedores da 1ª edição do ID Clinical Cases. A MSD destacou em comunicado a “pertinência, originalidade, rigor científico e impacto” dos grandes vencedores.

Na área da infeção por CMV foi distinguido o trabalho “Mielite transversa por vírus citomegálico num doente imunocompetente: como abordar e tratar?”, onde foi apresentado o o caso de um homem de 60 anos que se apresentou com um quadro de síndrome medular subaguda, cujo estudo acabou por confirmar uma lesão a nível cervical medular num doente imunocompetente. Através do estudo do líquor revelou-se uma PCR positiva para o vírus citomegálico, configurando o diagnóstico de uma mielite por vírus citomegálico num doente imunocompetente, que foi tratado em conformidade com terapêutica antivírica verificando-se melhoria clínica, imagiológica e analítica.

A autora, Catarina Caldeiras, Interna de Neurologia, no Centro Hospitalar São João, explica que “este caso foi relevante no sentido de considerar o vírus citomegálico sempre como uma possível etiologia de infeção do sistema nervoso central em doentes imunocompetentes. O facto de termos uma PCR positiva do vírus no líquor indica, provavelmente, um papel patogénico direto e a necessidade de tratamento com antivíricos”.

Na área da infeção por bactérias Gram-negativo foi distinguido o trabalho “Recurrent pneumonia by multirresistant Gram-Negative bactéria: the need to think the unthinkable”. O vencedor descreveu o caso de uma senhora de 45 anos com antecedente relevante de um linfoma não-hodgkin cervical já abordado cirurgicamente e com radioterapia, mas que, apesar de estar em remissão, lhe codifica uma alteração arquitetural e funcional da orofaringe e do ádito laríngeo, provocando infeções respiratórias sucessivas adquiridas a nível hospitalar, devido à necessidade de hospitalização recorrente, e ainda a uma gastrostomia de alimentação por fenómenos de aspiração e disfagia intermitentes.

Após uma infeção respiratória adquirida em comunidade, a doente apresentou-se novamente no hospital com um quadro de dispneia, de febre e de respiração ruidosa, que motivou o diagnóstico, logo no departamento de emergência, de um choque séptico. A falha respiratória propiciou a necessidade de entubação e de ventilação mecânica, acabando por ser admitida na unidade de cuidados intensivos. Durante cerca de 70 dias, observaram-se infeções respiratórias sucessivas adquiridas em meio hospitalar com agentes multirresistentes, Klebsiella pneumoniae e pseudomonas aeruginosa, com necessidade de antibioterapia de largo espetro.

Embora se verificasse uma melhoria clínica progressiva, com tentativa de extubação ou, pelo menos, de suspensão de ventilação mecânica, após a doente ser traqueostomizada, houve um agravamento atribuído a uma alteração da capacidade funcional da parte orofaríngea da doente e à colonização bacteriana, que fez com que, cada vez que se tentasse a extubação e uma respiração espontânea ou não associada ao ventilador, a doente agravasse novamente por fenómenos de aspiração sucessivo. Neste sentido, tendo em conta o processo patofisiológico, cujo controlo se previa muito difícil, e a compreensão dos riscos inerentes, acabou por se propor um processo resolutivo cirúrgico com uma amputação laringotraqueal da doente e o encerramento da glote com respiração pelo processo de traqueostomia para tentativa de minimização ou de abolição completa destes fenómenos de aspiração.

A partir desta cirurgia pouco comum, a doente teve uma recuperação surpreendente, com o cessar de episódios de pneumonia adquirida no hospital, não sendo necessário o recurso a antibioterapia e acabando por ter alta 10 dias depois da cirurgia. A doente recuperou a capacidade de alimentação por via oral sem intercorrências e retornou à sua atividade laboral cerca de dois meses depois da alta hospitalar.

“É um caso relativamente fora da caixa com uma resolução, ou proposta de resolução, nada habitual, mas que neste caso era fundamental para o controlo do foco [da infeção] e para a minimização destes episódios, que estavam a tornar-se mais incapacitantes nesta doente com uma lesão progressiva, sendo que o espectável seria continuarem a acontecer, caso esta opção não fosse sugerida”, explica o autor do projeto, Dr. José Pedro Silva, Interno de Medicina Interna, no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental.

No âmbito da iniciativa ID Clinical Cases, foram submetidos 15 casos clínicos na área de Infeção por Citomegalovírus (CMV) provenientes de 9 centros hospitalares, que envolveram 63 profissionais de saúde de seis especialidades médicas distintas. Foram ainda recolhidos 12 casos clínicos na área de infeções por bactérias de Gram negativo multirresistentes de 8 centros hospitalares, que contaram com o contributo de 27 profissionais de saúde de 5 especialidades médicas.

A iniciativa, desenvolvida em parceria com diversas sociedades científicas, pretende estimular a partilha de conhecimento teórico e prático e a discussão multidisciplinar entre especialistas, promovendo, desta forma, o aperfeiçoamento dos cuidados de saúde prestados aos doentes.

PR/HN/VC

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