“Temos, por exemplo, em dezembro, dois médicos que vão fazer os dois, entre eles, 19 noites e isto significa que estes médicos já há muito ultrapassaram o limite”, declarou aos jornalistas Alexandre Valentim Lourenço.
Após uma visita à Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia do hospital de Faro, aquele responsável sublinhou que as escalas da urgência daqueles serviços “são preenchidas com muitos sacrifícios dos poucos especialistas” que ainda as podem fazer.
Segundo Alexandre Valentim Lourenço, na urgência pediátrica de Faro existem apenas três especialistas com idade inferior a 55 anos, pelo que aquela urgência se socorre de “horas extra de colegas que se multiplicam para fazer múltiplos bancos”.
Nesse sentido, defendeu, é preciso criar condições para reter os pediatras que terminam a sua especialidade em Faro, mas acabam por se ir embora, dando-lhes “uma carreira” e a “possibilidade de serem remunerados pelo trabalho que fazem a mais e pela sua qualificação”.
De acordo com o médico, se os médicos que têm mais de 55 anos deixarem de fazer urgências, deixa praticamente de haver “médicos residentes especialistas no hospital”, obrigando o CHUA a continuar a “contratar fora”.
“A Ginecologia já contrata 60% em tarefeiros fora do hospital e isso não é possível fazer-se”, alertou, defendendo que é preciso “mudar as leis” e dar “mais dinheiro, mais organização e mais autonomia aos hospitais e aos serviços para resolverem os problemas da saúde dos portugueses”.
Questionado sobre a possibilidade de haver no Algarve demissões em bloco como tem ocorrido noutros hospitais, Alexandre Valentim Lourenço referiu que esse risco é “enorme”, havendo “colegas que falam nessa hipótese”, embora, sublinhou, veja vontade dos médicos em “continuarem a lutar pelo hospital”.
Em declarações aos jornalistas, a presidente do conselho de administração do CHUA relatou que têm sido atendidas nas urgências pediátricas dos hospitais de Faro e Portimão mais de 250 crianças por dia, apelando aos utentes para que se dirijam ao hospital apenas em caso de doença grave.
“Nós temos tido mais de 250 crianças por dia na urgência, o que não faz sentido, existem os outros canais todos e eu acho que as pessoas se esqueceram de ligar para a linha Saúde24, ir aos médicos de família, centros de saúde e vêm diretamente para o hospital”, disse Ana Varges Gomes, sublinhando que é “impossível responder a 250 urgências por dia”.
Segundo a médica, há pais que levam as crianças para a urgência do hospital “com o nariz obstruído”, mas a equipa das urgências “já tem sido curta” e não existe “nenhuma solução milagrosa” para conseguir resolver o problema de imediato.
No final de setembro, um grupo de médicos do CHUA alertou para a “alarmante situação de falência” da urgência pediátrica do hospital de Faro, considerando que a falta de profissionais está a colocar em risco a assistência aos doentes.
Numa carta enviada à administração do CHUA, à tutela e a outras entidades, à qual a Lusa teve acesso, o grupo referiu que o “envelhecimento persistente do corpo clínico” e a saída de médicos estão a dificultar o preenchimento das escalas na urgência e pede soluções urgentes.
LUSA/HN
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