Escola cabo-verdiana passa a exigir teste a alunos não vacinados

10 de Janeiro 2022

Cerca de 200 dos 1.300 alunos da Escola Secundária José Augusto Pinto, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, têm de apresentar teste negativo à Covid-19 a cada 14 dias, caso não estejam vacinados, anunciou esta segunda-feira a instituição.

A medida, que se aplica a partir de hoje aos alunos com mais de 18 anos, surge na sequência da atual vaga da pandemia, que nos últimos dias tornou pela primeira vez a ilha de São Vicente o epicentro da Covid-19 em Cabo Verde.

A decisão, conforme explicou à Lusa a diretora da escola, Dirce da Luz, é a mesma aplicada aos funcionários, para incentivar a vacinação contra a doença – em Cabo Verde mais de 70% da população adulta já está vacinada com as duas doses e já está a ser administrada a dose de reforço aos adultos.

“Temos alunos que tomaram a primeira dose muito antes de iniciarem o trimestre e já deviam ter tomado até a terceira dose, mas verificamos que muitos não tomaram. E também temos verificado a situação da saúde e temos ouvido de fonte da saúde que os doentes graves ou que morrem não tomaram a vacina. Então, estamos a incentivar os alunos a fazer a vacinação”, explicou a diretora da Escola Secundária José Augusto Pinto.

Segundo Dirce da Luz, para hoje, naquela escola, já está prevista a aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19 dos alunos dos 12 aos 17 anos – em todo o país, mais de 47% dos alunos desta faixa etária já receberam pelo menos uma dose desde dezembro -, pela delegacia de saúde, mas recordou que se os alunos não quiserem tomar a vacina ou por vontade dos pais, não serão obrigados.

“Sabemos que é exigido há muito tempo para os funcionários apresentação periódica de um teste negativo. Sendo os alunos maiores de 18 anos, estamos a alertar neste sentido, porque possivelmente, brevemente, nas outras escolas vai ser esta a medida para aqueles que não quiserem tomar a sua vacina”, afirmou.

De acordo com a diretora, esta medida é implementada pela direção da instituição de ensino da cidade do Mindelo e abrange ainda a proibição da saída do recinto escolar nos intervalos das aulas.

“Já no primeiro trimestre tínhamos reduzido os intervalos de 10 para cinco minutos e mantivemos o penúltimo intervalo de 20 minutos. Neste momento estamos todos a observar o que está a acontecer com Cabo Verde e São Vicente em particular, com o pico de aumento de casos de covid-19. Deixar estes alunos saírem para o intervalo provoca grande aglomeração lá fora, ou seja, se aqui dentro nós não abrimos a cantina, por ser um espaço bem reduzido, para evitar aglomeração, eles vão fazer isso lá fora”, explicou.

Segundo os dados do ministério da Saúde de Cabo Verde, São Vicente contava no domingo com 1.629 casos ativos de Covid-19, enquanto a Praia, capital do país e com o dobro da população, somava 1.696. Em todo o país, Cabo Verde conta com 6.233 casos ativos e regista um acumulado de 50.250 casos confirmados desde março de 2020, que disparam desde o final de dezembro para mais mil por dia, estando já confirmada a presença da variante Ómicron a circular.

A diretora da Escola Secundária José Augusto Pinto admitiu ser difícil controlar os alunos nos intervalos, mas apontou que outras medidas estão a ser tomadas para travar a propagação do vírus internamente: “Logo à entrada, os alunos fazem a desinfeção das mãos com álcool gel, mas nos intervalos perdemos esse controlo. Então, desde o primeiro dia fizemos o dia cívico, onde reforçamos as medidas que já tínhamos iniciado e também avisamos e incentivamos os alunos a trazerem um lanche e água de casa”.

O pico de infeções na ilha, com centenas de novos casos diários, tem-se sentido na escola, que contou com algumas baixas de professores por infeção de Covid-19. A escola já soma 11 professores impedidos de trabalhar por conta da doença desde o reinício das aulas, em 06 de janeiro, após as férias do Natal.

“Iniciámos na quinta-feira e fizemos um dia cívico, onde os professores apenas iam às salas passar as mensagens. Na sexta-feira é que tivemos aulas e como os professores já nos tinham avisado que iriam faltar, fomos fazendo a gestão, reorganizando as aulas de forma a que se tivessem que sair mais cedo, seria melhor”, frisou a diretora.

Os alunos sem professor são dirigidos à ludoteca da escola, onde ocupam o tempo com diferentes atividades até voltarem a ter aula, medida em vigor a partir de hoje.

Dirce da Luz assegurou que ainda não chegou à direção nenhuma reação oficial, no entanto a medida divide a opinião dos alunos.

Kevin Ramos, de 18 anos, que já tomou a primeira dose e que está em fase de receber a segunda, acredita por um lado que é necessária a adoção de medidas para conter a propagação do vírus, por outro mostra-se dividido sobre as condições dos alunos que precisam sair para fazer a primeira refeição do dia.

“Num ponto é bom, mas se formos ver pelas condições de alguns alunos que por vezes chegam à escola sem fazer a refeição e contam com o intervalo para comprar na porta e comer, não é bom”, contou Kevin.

Outro pormenor que desagrada a este aluno do 11.º ano é o facto de a medida ter sido adotada apenas por aquele liceu.

“Nas outras os alunos podem sair sem problema. É um tratamento diferenciado”, disse o estudante.

A aluna de 19 anos Stacy Rodrigues acredita que a segurança está em primeiro lugar e por isso concorda com a medida. Lembra que ano passado teve colegas que ficaram doentes com Covid-19 e que tiveram que ficar em casa por algum tempo. Na mesma linha vai a colega Janete Delgado, que acredita que os alunos devem ser os primeiros a dar o exemplo.

“Todos temos que lutar contra a doença. Porque se formos contaminados na escola, podemos levar o vírus para casa e prejudicar a nossa família. Neste momento, por estar a tirar disciplinas venho apenas para assistir a uma aula e volto para casa e mesmo assim no ano passado já não nos deixavam sair porque tínhamos apenas cinco minutos de intervalo”, contou.

LUSA/HN

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