Comerciantes moçambicanos esperam recontratar trabalhadores com alívio de restrições

29 de Janeiro 2022

Kizage Stephane, proprietário de uma mercearia em Maputo, teve de despedir os seus funcionários e assumir todo o trabalho devido às restrições impostas pela covid-19 em Moçambique.

Agora, com o alívio das restrições aos horários do comércio, espera aumentar os lucros para recontratar pessoal.

“Eu tive de trabalhar sozinho, assumi todas as funções aqui”, diz à Lusa Kizage Stephane, comerciante há seis anos.

Natural do Burundi, passou a ser o gerente, vendedor e distribuidor dos produtos, quando se viu face a uma crise: sem produtos, sem lucro e sem dinheiro para pagar aos funcionários.

Os últimos dois anos “foram muito difíceis”, diz o comerciante, que durante aquele período ainda sofreu dois roubos e culpa a covid-19.

“A maioria das pessoas ficou em casa, sem nada para fazer” e, por isso, “passou a roubar”, lamenta.

Com o regresso dos horários normais de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, Kizage acredita que terá condições para recontratar os seus funcionários.

“Eles também têm famílias por sustentar e precisam desse dinheiro. Quando a situação melhorar vou trazê-los de volta”, frisa.

Os anos de 2020 e 2021 foram marcados, entre outras medidas, por restrições de horários e dias de funcionamento de lojas, restaurantes, centros comerciais e outros estabelecimentos em Moçambique.

A subida do número de casos de covid-19 levou as autoridades moçambicanas a estabelecerem medidas para contenção da doença no país, uma das quais implicava que os comerciantes fechassem as lojas muito cedo, havendo épocas em que não podiam abrir os estabelecimentos aos domingos.

“Os clientes desapareceram. Muitas vezes pensei em fechar”, diz Neli Bassamo, dono de uma pastelaria.

A pastelaria do jovem, de 27 anos, está à beira da estrada das Mahotas, na periferia de Maputo, um lugar habitualmente agitado por estar próximo de uma paragem de transportes.

Mas as restrições para prevenir a pandemia e a retração global da economia deixou o seu estabelecimento “às moscas”.

Além de lucros e clientes, a pandemia levou também parte dos seus colaboradores porque já não conseguia obter dinheiro suficiente para lhes pagar salários.

Assim como Kizage, Nélio Bassamo vê na retoma normal dos horários, anunciada pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, no dia 19, uma janela de esperança para “recuperar os seus funcionários”.

“Eu não os despedi, pedi apenas que parassem de trabalhar porque eu não tinha como pagar”, diz, referindo que até teve de “estacionar” o seu plano de alargar as dimensões da pastelaria por conta da covid-19.

“Até hoje tenho dívidas por pagar por causa dessa doença”, refere, acrescentando que os horários encurtados por conta das restrições eram inviáveis.

“O movimento começava exatamente na hora do fecho. Aos domingos, dia de movimento, em que as pessoas recebem visitas e querem relaxar bebendo alguma coisa, também estávamos fechados”, frisa Frederico Khanimambo, proprietário de uma ‘bottle store’, casa de venda de bebidas alcoólicas.

“Foram dias difíceis. Sem movimento e sem lucros”, remata Frederico, que também teve de despedir alguns funcionários.

Após dois anos de restrições, o novo decreto ainda não é de domínio público, nem dos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), que colocaram em causa a abertura dos estabelecimentos no último domingo.

“Um dos meus amigos, que também é comerciante, foi levado à esquadra por ter aberto no domingo. Agora ficamos sem saber o que devemos fazer, o que realmente diz o decreto do Presidente”, queixa-se Kizage Stéphane.

LUSA/HN

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