Corrida à “ciência da pandemia” também passou por Portugal

11 de Março 2022

A pandemia da Covid-19 desencadeou uma corrida a recursos para combater e compreender a doença e entender os seus impactos, que em Portugal se materializou no desenvolvimento de medicamentos, vacinas, equipamentos e outros projetos.

Em Cantanhede, a empresa de biotecnologia Immunethep desenvolveu uma vacina inovadora, administrada através do nariz, que lhe permite concentrar o efeito imunitário nas mucosas dos pulmões, a via principal de entrada do coronavírus SARS-CoV-2 no organismo humano.

Os ensaios não clínicos feitos em animais terminaram em julho, mas o projeto continuava em janeiro deste ano à espera de financiamento do Estado para passar para a fase dos ensaios clínicos, necessários para se poder pensar em introduzi-la no mercado,

A empresa estima que sejam precisos 20 a 30 milhões de euros para se concretizar esta vacina, cujo desenvolvimento começou ainda em 2020, mas que não beneficiou de investimento adiantado como outras vacinas que se generalizaram, como a da empresa BioNTech, que em conjunto com a Pfizer beneficiou de investimento do governo alemão.

No Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA), uma equipa coordenada pela investigadora Cecília Arraiano foi por outro caminho e descobriu três compostos que atacam o SARS-CoV-2 independentemente da resposta do sistema imunitário da pessoa infetada, avançando que cada um deles reduz até 70%a atividade do coronavírus.

A partir de abril de 2020, a equipa foi procurar entre os milhares de compostos químicos nas bases de dados internacionais por aqueles que pudessem encaixar em duas ribonucleases do vírus, moléculas com um papel determinante na sua replicação.

A perspetiva é de que ao limitar a multiplicação do vírus, se reduza a gravidade da Covid-19, que, na ausência de outras complicações de saúde graves, se manifestaria como uma constipação.

Ainda antes da variante Ómicron, mais contagiosa e geralmente menos virulenta, os três compostos estavam em agosto de 2021 em fase de registo de patentes, com dois deles aprovados de antemão pelo regulador dos medicamentos norte-americano para uso em outras doenças.

Na reação à primeira vaga da pandemia, em março de 2020, o CEIIA- Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Matosinhos, criou em 45 dias o primeiro ventilador português, numa altura em que estes equipamentos estavam em alta procura para as vítimas de formas mais graves da Covid-19 que requeriam internamento e respiração assistida.

O “ventilador português” foi batizado de Atena e recebeu apenas uma autorização excecional condicionada para ser utilizado nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde face à escassez de aparelhos.

A equipa do CEiiA pôs-se a desenvolver uma segunda versão do aparelho com tecnologia mais evoluída.

Também em 2020, surgiu com assinatura portuguesa uma máscara de pano com capacidade de inativar o SARS-CoV-2, criada numa colaboração entre várias empresas e universidades portuguesas.

No combate à pandemia Portugal investiu através da Fundação para Ciência e Tecnologia mais de 15 milhões de euros em apoios extraordinários para projetos científicos neste âmbito.

O mecanismo Research4Covid-19 distribuiu 3,8 milhões de euros por 121 projetos que abrangeram áreas como a genética, investigação em saúde pública e ciências sociais.

O investimento público na “ciência Covid-19” contemplou ainda projetos de inteligência artificial e processamento de dados na administração pública, o estudo do impacto da pandemia em termos de género e a promoção de escolas de verão em instituições de ensino superior.

LUSA/HN

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