O trabalho, liderado por Cláudia C. Faria, investigadora do Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes e neurocirurgiã do Hospital de Santa Maria, ambos em Lisboa, foi publicado na revista científica Cell Reports Medicine.
A investigadora e restante equipa implantaram em ratinhos “pequenos fragmentos” de metástases do cérebro de doentes com vários tipos de cancro, incluindo do pulmão, cólon, bexiga, pele, mama, próstata e endométrio, que foram operados no Hospital de Santa Maria, tendo constatado que as células tumorais se disseminaram nos roedores “de forma muito semelhante à disseminação” ocorrida nos doentes.
As metástases, por definição, são tumores secundários que se formam a partir de tumores primários com origem num órgão diferente. “As metástases cerebrais são a principal causa de morbilidade e mortalidade associada ao cancro”, sublinha um comunicado conjunto do IMM e do Hospital de Santa Maria.
Cláudia C. Faria disse à Lusa que o estudo revelou que “as alterações genéticas dos tumores originados nos modelos animais eram idênticas às identificadas nos respetivos tumores dos pacientes” e que medicamentos anticancerígenos testados nos roedores “foram eficazes no tratamento dos tumores originados a partir de metástases cerebrais humanas”.
“O facto de os nossos modelos recapitularem, do ponto de vista biológico e genético, os tumores humanos que lhes deram origem, torna-os únicos para estudar a doença metastática dos doentes e permite que sejam testadas novas terapias com eventual aplicação clínica no futuro”, adiantou, justificando a relevância do estudo.
Num próximo passo da investigação, a equipa de Cláudia C. Faria pretende, recorrendo à mesma metodologia, “usar os modelos desenvolvidos para melhor estudar o processo biológico de metastatização e, simultaneamente, identificar fármacos inovadores que possam bloquear esse processo de disseminação para o cérebro”.
“Uma das perguntas para as quais ainda não temos uma resposta definitiva, e em que o nosso conhecimento científico ainda é limitado, é ‘por que motivo células malignas de vários tipos de cancro, sendo os mais frequentes o cancro do pulmão, mama, rim e pele, a determinada altura, decidem sair do tumor principal, entrar na corrente sanguínea e irem alojar-se no cérebro'”, apontou, justificando “a importância clínica de conhecer este processo” com o facto de “doentes com cancro e metástases no cérebro terem pior prognóstico”.
O estudo hoje publicado teve a colaboração de investigadores do Instituto Europeu de Bioinformática, no Reino Unido.
LUSA/HN
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