Faturação do setor da comunicação e RP recua 10,4% e lucro cai 40% em 2020

7 de Julho 2022

A faturação da comunicação e relações públicas recuou 10,4% entre 2019 e 2020, para 85,7 milhões de euros, e o lucro caiu de 5,1 para 3,1 milhões de euros, penalizados pela pandemia, aponta um estudo hoje divulgado.

Intitulado ‘O Setor das Relações Públicas e da Comunicação em Números’ e apresentado pela Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas (Apecom), o trabalho evidencia que “o setor registou uma tendência de crescimento entre 2017 (ano zero da série analisada) e 2019, transversal aos principais indicadores financeiros analisados, com variações na ordem dos 20% em volume de negócios e 17,8% em número de empregados”.

Contudo, “em 2020 esta tendência inverte-se, apresentando quebras ‘versus’ o ano anterior, ainda que com valores superiores aos registados em 2017”. A exceção foi o resultado líquido, que recuou para 3,1 milhões de euros, abaixo dos 4,8 milhões de 2017.

Em contraciclo, as exportações foram o único indicador com uma variação positiva em 2020 face a 2019 (11,1 milhões de euros, contra 8,8 milhões em 2019), o que, segundo a Apecom, “poderá denotar o esforço efetuado pelas empresas do setor em procurar mercados alvo alternativos e/ou parcerias com redes internacionais que permitissem potenciar a venda de serviços”.

Assim, em 2020, mais de metade (64) das empresas do setor afirmaram ter negócios com o exterior, o que compara com 16% na globalidade do tecido empresarial português.

“Ainda que a pandemia tenha tido reflexos negativos nos indicadores volume de negócios e resultados líquidos, ambos em linha com o tecido empresarial, a quebra em termos de colaboradores ficou abaixo desta variação (-2,5%), o que revela que, ainda assim, se procurou minimizar o impacto em termos de recursos humanos”, nota a Apecom.

De acordo com a associação, atualmente “o setor apresenta-se robusto, ativo na procura de mercados alvo alternativos e solidamente focado na qualidade dos serviços prestados, apostando nos recursos humanos para garantir serviço”.

Outro fator destacado é o “reduzido risco de ‘deliquency’ (61% das empresas apresentam um risco muito baixo ou baixo de ultrapassar o prazo dos seus pagamentos a fornecedores para além dos 90 dias, face aos prazos acordados), o que denota uma tesouraria sólida, ainda que os prazos de pagamento sejam claramente mais curtos que os de recebimentos”.

Segundo a Apecom, “a taxa de subcontratação reduzida, típica do setor, em que muitos projetos compreendem apenas valor hora, poderá de alguma forma contribuir para esta boa ‘performance’”.

No discurso feito durante a apresentação do estudo, em Lisboa, a presidente da associação destacou “o interesse renovado que a comunicação, enquanto disciplina e profissão, tem vindo a ter”: “Enquanto especialistas em comunicação e relacionamentos, as nossas empresas são das mais bem posicionadas, neste novo mundo, para ajudar a ultrapassar as dificuldades e constrangimentos e aproveitar as oportunidades e desafios que se estão a desenhar e a colocar”, sustentou Maria Domingas Carvalhosa.

Citando “informações recentes”, a dirigente enfatizou que, em 2021, “o setor cresceu, a nível mundial, de forma robusta, a um ritmo de cerca de 11%, à boleia de características e tendências” como a “hipersegmentação, desenvolvimento tecnológico, enfraquecimento do papel dos Estados e desenvolvimento multivetorial de assuntos públicos, importância crescente da integração de soluções e respostas aos desafios de envolvimento das organizações”.

Os dados hoje divulgados apontam ainda que, em 2020, o setor empregava 1.117 colaboradores, cujas remunerações representavam cerca de 25% do volume de negócios (21,6 milhões de euros), inferindo-se daqui uma remuneração média anual de 19.337 euros.

Da análise efetuada pela Apecom, com o apoio da Informa D&B, conclui-se ainda que “este é um setor maduro, em que dois terços das empresas têm entre seis-19 anos e uma idade média de 14 anos, aproximadamente mais um ano do que o ‘benchmark’ do tecido empresarial”.

O volume de negócios médio é de 732 mil euros (‘versus’ 909 mil euros do ‘benchmark’) e o número médio de empregados 9,5 (‘versus’ 7,9 da média do tecido empresarial), “de onde se pode concluir que este é um setor cujo principal ‘asset’ [ativo] e foco de maior investimento são as pessoas”.

Ainda que apenas 9% das empresas tenham uma faturação entre os dois e os 10 milhões de euros, estas representam 46% do volume de negócios do setor e são responsáveis por 37% do número de colaboradores, “refletindo uma expectável concentração do mercado nos ‘players’ de maior dimensão”.

Em termos de número de colaboradores, mais de um quarto do mercado é composto por empresas com mais de 10 funcionários, sendo o nicho de 3% com mais de 50 colaboradores responsável por 19% do volume de negócios do setor.

A Área Metropolitana de Lisboa concentra mais 75% das empresas do setor, cuja “quase totalidade do capital é nacional”, e apenas 22% das empresas são familiares (nove pontos percentuais abaixo do tecido empresarial).

Embora 68% dos trabalhadores do setor da comunicação e relações públicas sejam mulheres, nos cargos de liderança e gestão os homens predominam. Ainda assim, nota a Apecom, “este ‘split’ é mais equilibrado do que o verificado no tecido empresarial, com uma proporção de cerca de 40% mulheres para 60% de homens”.

LUSA/HN

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