As doenças cardíacas são uma das principais causas de mortalidade em Portugal e, depois de um primeiro episódio de enfarte, a repetição de um novo evento é comum, reconheceu o coordenador da Unidade de Reabilitação Cardíaca, Alexandre Antunes.
Entre os 150 doentes que já passaram por esta unidade, há a lamentar três mortes, duas das quais por terem patologias “graves” e outra por incumprimento das recomendações.
“É na tentativa de melhorar toda esta doença crónica, e consequentemente todas as implicações sociais, que nasce a reabilitação cardíaca. É um programa que pretende ajudar os doentes a mudar o ‘chip’”, acrescentou.
Esta unidade, acreditada recentemente pela Sociedade Europeia de Cardiologia, tem melhorado a qualidade de vida dos utentes. Criada há cinco anos no Hospital de Santo André, os resultados têm sido satisfatórios, ao contribuir para a redução da mortalidade cardiovascular e de readmissões hospitalares.
“Está provado que a reabilitação cardíaca bem feita consegue ter um impacto na redução da mortalidade e de novos enfartes igual ou superior a qualquer medicamento de ponta ou até tratamentos mais agudos, como as angioplastias”, explicou o médico cardiologista.
Américo Rosinha, 68 anos, teve um enfarte em dezembro de 2021. Esteve nos cuidados intensivos e começou há poucas semanas o programa de reabilitação, que tem uma vertente educativa, de exercício físico e de gestão de stress e ansiedade.
“É importante para o resto da vida. Saio daqui mais motivado para manter uma vida saudável no dia-a-dia. Passei a fazer mais caminhadas e a cumprir uma alimentação mais saudável”, admitiu o utente.
Depois das sessões que já realizou, Américo Rosinha confessou que cada vez que pega num “bolinho” já pensa “no açúcar e na gordura que possui”.
“Antes, não tinha a mínima preocupação, talvez por isso é que tive o enfarte”, constatou.
Enfermeiro de profissão, Pedro Quintas, 43 anos, sofreu um enfarte em janeiro e sublinhou que o programa, que tem uma duração entre oito a 12 semanas, é uma “mais-valia” para o futuro.
“Não é só a mentalização do doente, mas também a mudança do estilo de vida”, acrescentou, ao destacar a importância da aplicação ‘Movida Eros’, concebida em parceria com o Politécnico de Leiria, que monitoriza o exercício físico do utente.
A aplicação móvel permite prescrever e acompanhar o doente sempre que este realiza o exercício, monitorizando os sintomas.
Nas sessões presenciais de exercício, o médico segue os valores dos batimentos cardíacos e pulsação.
“À medida que a pessoa adquire o hábito de se exercitar, vai ficar mais autónomo, com mais capacidades, mais confiante e com menos probabilidades de voltar a ter um enfarte”, garantiu Alexandre Antunes.
“No fim deste programa pretendemos ter um doente mais informado, mais exercitado, mais relaxado e a lidar melhor com o stress”, afirmou o cardiologista, lamentando que os doentes ativos profissionalmente tenham maior dificuldade em aderir ao programa, por incompatibilidade laboral.
LUSA/HN
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