Casos de malária disparam em 80% no Tigray

28 de Outubro 2022

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou hoje para um aumento acentuado de casos de malária na região etíope do Tigray, onde os rebeldes e as forças governamentais lutam há quase dois anos.

Em Tigray, os casos de malária aumentaram 80% em comparação com o mesmo período do ano passado, disse o gestor de Intervenções de Emergência da OMS para a Etiópia, Ilham Abdelhai Nour, numa conferência de imprensa em Genebra.

“Temos de implementar e realizar atividades de prevenção e tratamento da malária”, mas a OMS já não tem a possibilidade de enviar equipamentos por via aérea ou rodoviária há seis semanas, afirmou.

A OMS enviou alguns materiais entre março e agosto, durante a trégua humanitária, mas a escassez de combustível limitou severamente o reabastecimento dos centros de saúde na região.

Além disso, pela primeira vez desde a década de 1960, as pessoas no Tigray não têm acesso a intervenções preventivas contra a malária, como medicamentos profiláticos, segundo a organização.

Como a OMS não tem acesso à região, a informação chega-lhe a conta-gotas todas as semanas, através dos centros de saúde.

A organização tem acesso às regiões vizinhas de Afar e Amhara. Na região de Amhara, os casos de malária aumentaram 40% ao longo do último ano.

Até agora, nenhum caso de cólera ou sarampo foi observado no Tigray, disse Abdelhai Nour, mas a OMS continua preocupada, especialmente porque apenas 9% dos centros de saúde da região estão em pleno funcionamento.

A 19 de outubro, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, natural do Tigray, disse que havia “uma janela de oportunidade muito estreita para evitar o genocídio” na região.

“Crianças morrem todos os dias devido à desnutrição. Não existem serviços para tuberculose, VIH, diabetes, hipertensão, todas as doenças que podem ser tratadas noutras partes do mundo, mas no Tigray são agora sinónimo de sentença de morte”, lamentou.

O diretor de Resposta de Emergência Sanitária da OMS, Altaf Musani, apelou para um acesso sustentado a todas as partes do país e salientou que os riscos sanitários são “vastos, imediatos e reais”.

Musani alertou, ainda, para um atual surto de cólera em três subdistritos da região de Oromia e um subdistrito vizinho da região da Somália. No total, foram identificados 273 casos confirmados.

“Para além da cólera, estamos muito preocupados com o sarampo”, afirmou, com mais de 6.200 casos comunicados a nível nacional este ano.

A OMS está também profundamente preocupada com os elevados níveis de desnutrição no país.

O conflito no Tigray começou no início de novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A TPLF dominou a coligação governante da Etiópia durante décadas antes de Abiy chegar ao poder, em 2018, e tê-los expulsado.

Após cinco meses de tréguas humanitárias, os combates foram retomados em 24 de agosto.

O Tigray está isolado do resto do país e privado de eletricidade, redes de telecomunicações, serviços bancários e combustível. A entrada de ajuda humanitária por via rodoviária e aérea também tem sido interrompida desde que os combates foram retomados.

O resultado do conflito, que se desenrola em grande parte fora dos olhares mediáticos, é desconhecido. A embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, estimou que em dois anos “morreram até meio milhão de pessoas”.

A imprensa não tem acesso ao norte da Etiópia e as comunicações operam de forma desordenada na região, impossibilitando qualquer verificação independente das informações.

LUSA/HN

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