Espanha: Menos casos de Eutanásia do que esperado no primeiro ano da lei

17 de Dezembro 2022

Cerca de 180 pessoas morreram em Espanha com ajuda ou vigilância de profissionais de saúde no primeiro ano da lei da eutanásia, um número inferior ao esperado, segundo o presidente da Associação Federal Direito a Morrer Dignamente (DMD Espanha).

O número de 180 pessoas foi revelado pelo Governo espanhol em 24 de junho último, dia em que passou um ano da entrada em vigor da lei da morte medicamente assistida em Espanha.

A aplicação da lei cabe aos governos regionais e nem todos têm fornecido dados e os mesmos dados neste ano e meio, disse à Lusa o presidente da DMD Espanha, Javier Velasco.

A associação, fundada há 38 anos, calcula que entre 180 e 200 pessoas tenham morrido por eutanásia ou suicídio assistido, ao abrigo da lei, até agora, um número inferior ao que esperavam.

Javier Velasco diz que há ainda “muita gente que desconhece a lei”, que foi aprovada e está em vigor.

Sobre aquilo que se sabe dos casos em que foi aplicada, Javier Velasco destacou que há uma percentagem maior de doenças degenerativas em comparação com as oncológicas, ao contrário do que acontece na Bélgica ou nos Países Baixos, que têm legislações em vigor há muito mais tempo.

O presidente da DMD Espanha avança com uma explicação, que realça que é apenas hipotética, por haver pouca informação: a maioria das pessoas que há anos esperavam pela entrada em vigor da lei tinha doenças degenerativas, com “expectativa de vida de anos”, em muitos casos, e assim que foi criada a possibilidade de acesso à eutanásia, avançaram.

Javier Velasco disse ser necessário “esperar para ver se a percentagem diminui nos próximos anos e se equipara aos Países Baixos e à Bélgica”.

Segundo os dados oficiais divulgados em junho, das 180 pessoas a quem foi aplicada a eutanásia em Espanha (país com cerca de 47 milhões de habitantes), 22 doaram os seus órgãos, com os quais se realizaram 68 transplantes.

É um número significativo de doações, com uma percentagem maior do que noutros países, disse Javier Velasco, afirmando que, neste caso, já era esperado, por Espanha ser um dos países do mundo onde há mais doações e transplantes de órgãos.

Ouros aspeto que o presidente da DMD Espanha realçou é o aumento do número de pessoas que em Espanha estão a fazer “testamento vital” com inclusão de pedidos de eutanásia.

O testamento vital é um documento legal em que uma pessoa deixa escrita a sua vontade em relação a tratamentos médicos em caso de vir a ficar inconsciente ou demente e, no caso de Espanha, permite também deixar registado um pedido de eutanásia nessas circunstâncias.

Espanha foi, em junho de 2021, o quarto país europeu a descriminalizar a eutanásia, depois de Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo.

Em Portugal, a Assembleia da República aprovou na semana passada, pela terceira vez, uma lei para a despenalização da eutanásia (muito semelhante à que está em vigor em Espanha), depois de as duas anteriores terem tido vetos presidenciais.

A legislação espanhola permite a eutanásia (morte do paciente, por sua vontade, através da administração de substâncias por profissionais de saúde) e o suicídio assistido por médicos (quando é a própria pessoa a ingerir as substâncias).

Os adultos que sofram de uma doença grave e incurável ou de uma condição grave, crónica e impossível, que cause “sofrimento físico ou psicológico intolerável” sem possibilidade de cura ou melhoria, podem solicitar ajuda médica para morrer, prestação que será incluída no Sistema Nacional de Saúde espanhol.

O paciente deve confirmar a sua vontade de morrer em pelo menos quatro ocasiões ao longo do processo, o que pode demorar pouco mais de um mês a partir do momento em que o solicita pela primeira vez, e em qualquer momento pode retirar ou adiar a eutanásia.

A lei também prevê o direito dos médicos à objeção de consciência e estabelece a criação de uma Comissão de Garantia e Avaliação em cada comunidade autónoma espanhola composta por médicos e juristas para acompanhar cada caso.

Segundo os dados oficiais conhecidos em junho – e que são os únicos divulgados até agora – foi na região da Catalunha que houve mais pedidos de eutanásia no primeiro ano, 137, e 60 concluíram o processo até 24 de junho.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights