Rafaela Miranda: “Para uma boa higiene íntima é importante que as mulheres conheçam a sua anatomia”

03/15/2023
Ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima. Rafaela Miranda, interna de Medicina Geral e Familiar, chama a atenção para a necessidade de as mulheres conhecerem a sua própria anatomia, a importância da manutenção do pH vaginal e da hidratação para um dia-a-dia saudável.  

Ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima. Rafaela Miranda, interna de Medicina Geral e Familiar, chama a atenção para a necessidade de as mulheres conhecerem a sua própria anatomia, a importância da manutenção do pH vaginal e da hidratação para um dia-a-dia saudável.  

HealthNews (HN) – A higiene íntima é um tema que ocupa uma grande parte da rotina diária das mulheres mas, para algumas, continua a ser um tema tabu. Porquê?

Rafaela Miranda (RM) – Não lhe chamaria “tabu” mas, de facto, ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima e abordarem este assunto na consulta. Esta circunstância deriva de muitos fatores, desde a educação conservadora às crenças enraizadas. Por outro lado, o facto de as mulheres manifestarem esse pudor, faz com que os homens também o tenham. Não falam uns com os outros, geram-se constrangimentos e inibição mas, de facto, este é um assunto muito importante para o quotidiano de qualquer mulher.

Para as mulheres fazerem uma boa higiene e terem uma relação saudável com o seu corpo, é importante que conheçam a sua anatomia. Têm, por exemplo, uma incidência muito maior de infeções do tracto urinário em comparação com os homens, justamente porque a distância entre a uretra e a vagina, e entre a vagina e o ânus, é muito menor do que no sexo masculino. Além disso, na mulher, a uretra tem um comprimento menor, o que facilita a ocorrência de infeções.

HN – Quais são as queixas que mais ouve na consulta?

RM – Temos as queixas do foro sexual e as infeções vulvovaginais. Estas podem ser causadas por vírus, fungos ou bactérias. É importante sabermos que o pH vaginal varia ao longo da vida da mulher e ao longo do ciclo menstrual. A influência é hormonal. 

O ideal seria manter um pH ácido, entre 4 e 5. Qualquer perda deste equilíbrio provoca alterações ao nível da flora vaginal, o que favorece o aparecimento de infeções. 

HN – Quais são os cuidados a ter durante a menstruação, depois de manter relações sexuais ou durante tratamentos ginecológicos?

RM – Há cuidados gerais que devemos adotar sempre: higiene da região anogenital, uma a três vezes por dia, dependendo do clima, do biótipo da mulher, da atividade física e de doenças prévias que possam existir. 

O tempo de higiene nunca deve ser superior a dois ou três minutos para não  provocar secagem excessiva, com abrasão.

A região anogenital deve ser lavada suavemente e devemos escolher sempre um gel com pH ácido. Para evitar as infeções vulvovaginais, como as infeções do tracto urinário, é importante lavar e secar sempre de frente para trás, para não trazer as bactérias em direção à vulva.  

HN – Que fatores favorecem o aparecimento de infeções?

RM – Podem ser muitos. Desde o uso de produtos de higiene inadequados  – como, por exemplo, produtos de supermercado que, frequentemente, nem têm a indicação do pH, podendo ser mais alcalino -, duches vaginais, lavagens excessivas ou intensas, o uso do penso higiénico diário, roupas justas e apertadas… 

HN – Porque motivo é tão importante o equilíbrio da flora vaginal?

RM – A flora vaginal, ou a microflora genital, é constituída por um conjunto de microorganismos que se encontram na vagina. São esses microorganismos que contribuem para manter o pH em níveis ideais e nos protegem. Contudo, podem tornar-se nocivos quando existe uma proliferação de determinado microorganismo, bactéria ou fungo. 

HN – Quais os fatores que se devem privilegiar no momento de escolher um produto específico para a higiene íntima?

RM – Em primeiro lugar, os sabonetes em barra não devem ser usados. Não só para a higiene desta região mas também da pele em geral. Em casa, acabam por ser compartilhados por outras pessoas e há sempre o risco de contaminação. 

Por outro lado, os sabonetes têm um pH mais alcalino, que os tornam desaconselhados para a zona genital. Vão promover secura, a diminuição da acidez de que falámos, e a desregulação da flora vaginal.

Os sprays, perfumes, talcos, toalhitas, também não devem ser usados porque o objetivo é manter o pH nos valores ideiais.

A hidratação é uma etapa por vezes negligenciada – sobretudo nas mulheres após a menopausa – mas, da mesma forma que existem lubrificantes vaginais, também existem hidratantes vaginais adequados, que vão manter o pH ideal e reduzir a secura.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This