“Portugal, mas também outros países, teriam de manter um decréscimo [percentual anual] muito mais acentuado do que o que tem sido observado até à data, (…) e é por esse motivo que em cada três anos são lançadas novas estratégias”, disse à agência Lusa a diretora do Programa Nacional para a Tuberculose (PNT), lembrando que foi lançado agora – de 2023 a 2030 – um novo plano estratégico da OMS.
Isabel Carvalho sublinha a importância do tratamento preventivo e da “abordagem centrada no doente”: “Não podemos estar à espera que o doente se desloque sempre aos cuidados de saúde, que podem ser distantes, para mais uma coisa na sua vida, algo que não lhes diz ainda respeito porque, de facto, não estão doentes”.
“Se nós oferecermos tratamento num contexto de outros cuidados, simultaneamente, na comunidade, por exemplo, no âmbito dos cuidados de saúde primários, (…) conseguimos realmente ter mais impacto”, acrescenta.
O relatório de vigilância e monitorização da tuberculose em Portugal, com dados definitivos de 2021, hoje divulgado, aponta para um aumento número de dias entre o início dos sintomas e o diagnóstico e diz que, para fazer face a este atraso, o Programa Nacional para a Tuberculose “tem promovido a intervenção dos vários parceiros, (…) na sensibilização e aumento da literacia de populações vulneráveis”.
“Na realidade, se nós oferecemos tratamento preventivo, e é o que a OMS também tem vindo a chamar a atenção, nós conseguimos, neste momento, ter muito mais impacto na redução da doença. E é nisso que o programa tem estado a trabalhar”, disse Isabel Carvalho.
A responsável reconhece que “não é fácil” porque “a tuberculose tem vários cenários” e exemplifica: “Nós podemos estar infetados e não doentes e o infetado que não está doente não tem sintomas e, ao não ter sintomas, está ainda menos sensibilizado”.
Isabel Carvalho defendeu que se faça o rastreio no meio de outros cuidados, por exemplo, na consulta hospitalar das pessoas que vivem com VIH ou nas pessoas que fazem tratamentos biológicos das doenças articulares inflamatórias.
Lembrando que a vacina BCG é a mais eficaz até à data, a responsável lembra que a ela “não consegue evitar a tuberculose, apenas contribui para que haja menos casos graves.
No entanto, insiste: “Se nós demorarmos muito a fazer o diagnóstico tuberculose num adulto, nós também não vamos saber que a criança que vive com aquele adulto também já está doente e (…) aí a BCG não nos vai conseguir colmatar a evolução da doença para uma forma grave’”.
O relatório indica que, em 2021, 2,8% do total de casos ocorreram em crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos.
Em 2021 foram notificados 32 casos de tuberculose em crianças com idade igual ou inferior a 5 anos, o que corresponde a uma taxa de notificação de 6,1 casos/100 mil crianças do grupo etário 0-5 anos.
Cinco das crianças (15,6%) com tuberculose notificadas neste grupo etário estavam vacinadas com a BCG e as autoridades registaram a morte de uma criança com idade inferior a 6 anos que apresentava tuberculose.
LUSA/HN
0 Comments