Urgências: É preciso “reinventar os hospitais” e “sentar à mesa e falar”

6 de Abril 2023

O mais recente webinar das Conversas em Rede, da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), reuniu ideias para mudar os serviços de urgência.

Para Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João, é urgente: desenvolver um modelo em que os utentes apenas possam ir ao serviço de urgência se referenciados por um dos agentes a montante; criar a especialidade de Medicina de Urgência e ter equipas de gestão de admissões a controlar adequadamente os recursos e a capacidade hoteleira no hospital. É preciso “reinventar os hospitais para fazer face a uma demanda que é cada vez maior, mas que é sobretudo de uma qualidade diferente”, concluiu.

João Gouveia, diretor do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, destacou que tem que haver vontade política. “Do ponto de vista médico, nós estamos perfeitamente disponíveis para isso”, declarou. Para o especialista, é primordial organizar a referenciação nas urgências, e “não pode ser só passar a bola para os cuidados de saúde primários”. “Acho que os hospitais têm muito a fazer”, observou. Equipas dedicadas e qualidade de vida para os profissionais, revolucionar os processos dentro dos serviços de urgência e ter soluções a montante, na comunidade, estando atento às dificuldades e necessidades dos idosos, foram algumas das suas sugestões. Além disso, é preciso “captar as pessoas certas para o lugar certo”, estímulo intelectual e formação para os profissionais, sendo que, na urgência, “há uma penosidade diferente que tem que ser reconhecida”.

Bruno Heleno, Assistente de Medicina Geral e Familiar no ACES Lisboa Norte, sublinhou o “problema monstruoso” que é termos 1 milhão e 600 mil portugueses sem equipa de saúde familiar e a dificuldade em reter profissionais nos cuidados de saúde primários. A transferência de utentes de menor gravidade das urgências hospitalares para outros níveis de cuidados parece-lhe uma “solução lógica”, mas quer ouvir falar mais sobre os recursos que terão de existir nas outras estruturas. Na comunidade, frisou o médico, os recursos devem estar disponíveis, contribuindo para melhorar a vida dos cidadãos.

O webinar moderado por Marina Caldas contou também com a participação de Francisca Delerue, diretora da Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital Garcia de Orta, que frisou que a hospitalização domiciliária “pode ajudar muito quer no internamento quer no serviço de urgência”. “Cada vez mais internamos doentes diretamente da consulta”, disse. No entanto, “há possibilidade de reorganizar e de aumentarmos números” na hospitalização domiciliária. “Porque é que os doentes que agudizam na rede [de cuidados continuados] vêm todos para a urgência? Isto não faz qualquer sentido”, alertou ainda a especialista.

“Isto é um bocadinho como os incêndios. Há alturas do ano em que os incêndios se aceleram e, depois, aparecem os milagreiros para resolver aquilo tudo, e nós verificamos que há estruturalmente coisas que têm que ser feitas”, disse Ana Escoval, que, em representação da APDH, participou também com ideias e reflexões, começando por recordar que “há estudos muito bem feitos” e boas experiências, com os quais podemos aprender. “Eu acho que nos temos que sentar à mesa e falar uns com outros”, sublinhou a administradora hospitalar.

“As pessoas têm de ser vistas enquanto pessoas e, aqui neste fluxo, sem níveis. (…) Não há profissionais de primeira, profissionais de segunda. Há profissionais que conjugadamente têm de contribuir para melhorar a vida das pessoas”, defendeu. Nisto, “não podemos deixar de ter um sistema de informação que efetivamente permita a todos, nesse mesmo fluxo, aceder a toda a informação”. Os hospitais devem comunicar entre si pelo bem dos doentes. “Há muitos anos que nós lutamos para haver internamentos diretos, por exemplo, entre hospitais”, disse Ana Escoval.

HN/RA

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