PSD quer pagamento retroativo de apoios mesmo que haja atrasos nas juntas médicas

12 de Abril 2023

O PSD marcou para hoje um debate parlamentar de urgência sobre os atrasos na realização de juntas médicas, e vai exigir garantias ao Governo de que os cidadãos não sejam prejudicados nos apoios sociais a que têm direito.

O debate tinha sido anunciado na semana passada pelo presidente do PSD, Luís Montenegro, que criticou “os atrasos muito significativos” na realização de juntas médicas, considerando que “é mais uma demonstração de um Governo desleixado”.

Em declarações à Lusa, a vice-presidente da bancada Clara Marques Mendes explicou que o partido tem dois objetivos com este debate de urgência, intitulado “Falha do Estado Social: atrasos na realização de juntas médicas impedem cidadãos de acesso a apoios e a prestações sociais”, e que contará com a presença da secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares.

“Por um lado, queremos que seja encontrada uma forma de agilizar a realização de juntas médicas e, por outro, no que diz respeito aos apoios e prestações sociais, que o Estado garanta que ninguém vai ser penalizado fruto do atraso do Estado”, defendeu.

A deputada do PSD salientou que os sociais-democratas já têm iniciativas nesta matéria: uma proposta no âmbito do último Orçamento do Estado, um projeto-lei entregue em abril e uma resolução que deu entrada esta semana e em que se recomenda o pagamento retroativo a quem tenha direito a apoios sociais, independentemente do atraso nas juntas médicas.

“O princípio do pagamento retroativo só está consagrado para situações fiscais e nós queremos alargá-lo aos apoios que estão dependentes da realização de juntas médicas”, explicou a deputada.

Ou seja, “o cidadão em condições de receber o apoio social passa a adquirir direito a partir do momento em que comprova o pedido da junta médica, se ela não for realizada em 60 dias”, o prazo estipulado na lei.

“Os atrasos estão a ser, em alguns casos, de mais de três anos”, disse, salientando que também a Provedora de Justiça já sinalizou esta matéria ao Governo.

Clara Marques Mendes defendeu que “não faz sentido que, por falhas do Estado na realização das juntas médicas, as pessoas sejam penalizadas”, considerando tratar-se de “uma matéria da mais elementar justiça sempre e, por maioria de razão, numa altura em que se vive uma crise socioeconómica.

“É um problema que já existia antes da pandemia e que se agravou”, afirmou.

No projeto de resolução (que não será votado na quarta-feira, uma vez que o formato de debate de urgência não permite arrastamentos), o PSD salienta que “a necessidade em obter o Atestado Médico de Incapacidade Multiuso é urgente e imediata, na medida em que só através da apresentação do mesmo é dada a possibilidade de acesso a diversos apoios sociais (para além de benefícios fiscais)”.

Entre estes, conta-se a Prestação Social para a Inclusão, o acesso a assistência pessoal através de Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI), o cartão de estacionamento para pessoas com deficiência, o acesso a crédito à habitação bonificado, limitações no aumento da renda de casa, isenção do pagamento de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde, comparticipação de medicamentos e do acesso a transporte não urgente de doentes, bonificação do abono de família, subsídio de educação especial, quota de emprego na Administração Pública, acesso a contingentes especiais e a bolsas de estudo no ensino superior, descontos em transportes públicos ou telecomunicações, entre outros.

Para o PSD, urge garantir que os cidadãos “tenham efetivo acesso e em tempo útil a todas as medidas e benefícios que contribuam para a sua integração e inclusão e que não vejam negado o acesso a qualquer direito por motivos que lhe são totalmente alheios”.

“Nessa sequência, e sem prejuízo da necessidade de adoção de medidas estruturais, que de forma sistémica e global permitam ultrapassar os constrangimentos verificados na obtenção dos referidos atestados, importa, desde já, assegurar que o cidadão não é penalizado por incumprimentos e atrasos que não lhe são imputáveis”, refere a recomendação ao Governo.

Na resolução, o PSD propõe assim que “o acesso a todos os apoios e prestações sociais decorrentes da detenção do Atestado Médico de Incapacidade Multiuso sejam garantidos a partir do 61.º dia a contar do respetivo requerimento, mesmo que não se verifique a realização de junta médica no prazo previsto dos 60 dias”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights