“Não tenho dúvidas que, no médio e longo prazo, as equipas dedicadas são um caminho, como é um caminho retirar doentes da urgência. Para criar estas equipas dedicadas precisamos de incentivos e os incentivos são financeiros, mas não são só financeiros”, disse Nelson Pereira.
O médico referia-se à criação da especialidade da Medicina de Urgência, um tema que recentemente sofreu, como Nelson Pereira adjetivou, “um percalço” ao ser chumbado pela Ordem dos Médicos.
“Obviamente [que esta especialidade] não estará disponível no curto prazo, mas no médio e longo prazo virá dar solidez à estratégia que hoje se anunciou [de criação de equipas dedicadas para as urgências]”, referiu.
Nelson Pereira, que falava aos jornalistas à porta do Hospital de São João, no Porto, uma unidade que tem uma equipa dedicada à urgência há 20 anos, disse que “neste momento a prioridade absoluta tem de ser trazer todos os médicos que já estamos habituados cronicamente a dizer que são poucos, mas agora os poucos que são ainda estão com menos tempo disponível porque não estão a ser capazes de fazer as horas todas que costumavam fazer”.
“São médicos altamente qualificados de diferentes especialidades”, frisou, lembrando que são médicos que “gozam um Natal de vez em quando, têm um único fim de semana livre por mês e fazem seis noites de urgência por mês no mínimo”.
“Isso tem um preço e o preço não é só monetário. É monetário também, mas passa pelo incentivo profissional, pelo reconhecimento desta dedicação”, acrescentou.
Em 12 de dezembro, a Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos (OM), um órgão que junta os médicos de todos os distritos do país e das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, “chumbou” a criação da especialidade, encerrando um processo com cerca de três anos.
O projeto de criação desta nova especialidade previa um plano curricular com cinco anos, o que permitiria ter os primeiros especialistas em Medicina de Urgência formados dentro de seis anos.
Numa reação à Lusa antes da reunião da ordem, o diretor executivo do SNS salientou que a existência dessa especialidade permitiria a definição de uma carreira, melhorando a qualificação dos médicos, mas também criando condições para recrutar e fixar mais desses profissionais de saúde no SNS.
“Este caminho não coloca em causa a presença das outras especialidades nos serviços de urgência, bem como o seu relevantíssimo papel”, disse Fernando Araújo na altura.
Hoje, Nelson Pereira considerou que “o problema dos Serviços de Urgência em Portugal é tão complexo que não se compadece com uma única medida para resolver o problema”, acrescentando a necessidade de “educar” a procura e criar alternativas.
“Vamos ter de intervir em muitas outras áreas e a procura é uma delas. Vamos ter de ser capazes de reestruturar os cuidados de saúde em Portugal para que não continuemos a ter seis milhões de pessoas dos 10 milhões todos os anos a irem ao Serviço de Urgência, faz-se educando as pessoas e criando alternativas”, descreveu.
O médico falou, ainda, da referenciação obrigatória como “o fim de um processo que visa que as pessoas usem o sistema de forma adequada” e considerou que o modelo de Unidades Locais de Saúde “potencialmente” ajuda “numa maior integração entre os hospitais e os cuidados de saúde primários”.
NR/HN/Lusa
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