Mulheres e raparigas começaram a ser vacinadas contra a hepatite E no Sudão do Sul

31 de Janeiro 2024

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciaram hoje que começaram a vacinar mulheres e raparigas contra a hepatite E no Sudão do Sul, com a cooperação do Ministério da Saúde, em resposta a um surto mortal da doença no país. 

A taxa de mortalidade pode atingir os 40% entre as mulheres grávidas e muitas das pessoas em estágios avançados da doença não sobrevivem, explicaram os MSF através de um comunicado hoje divulgado.

Desde abril de 2023, 501 casos de hepatite E foram tratados no hospital dos MSF em Old Fangak, no estado de Jonglei, e pelo menos 21 pessoas – principalmente mulheres – morreram.

“A hepatite E é uma doença transmitida pela água que pode ser fatal”, afirmou o chefe de missão dos MSF no Sudão do Sul, Mamman Mustapha.

“Cerca de 20 milhões de pessoas são infetadas todos os anos e, destas, três milhões apresentam sintomas que requerem tratamento. No entanto, nem toda a gente tem acesso a tratamento em tempo útil, especialmente em países com um número limitado de instalações de saúde como o Sudão do Sul”, explicou.

De acordo com os dados citados por Mustapha, 70.000 pessoas morrem da doença todos os anos e é “por isso que a vacina é tão importante, pois pode salvar vidas”.

A vacina foi desenvolvida em 2012 e foi aprovada para utilização em situações de emergência pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2015. No entanto, só tinha sido usada uma vez, em 2022, quando os MSF realizaram uma “estreia mundial” numa campanha de vacinação em massa no campo de Bentiu, no Sudão do Sul, que abriga pessoas deslocadas.

A campanha hoje anunciada será no condado de Fangak, situado numa zona extremamente remota do norte do Sudão do Sul, nos pântanos de Sudd. Aqui, existem pequenas comunidades onde as pessoas têm um acesso “excecionalmente limitado até aos cuidados de saúde mais básicos”.

“Até levar as nossas vacinas infantis de rotina a Old Fangak é um desafio. Só é possível chegar ao hospital de barco, utilizando o rio Nilo, ou por via aérea”, sendo que a pista de aterragem está inundada há quatro anos, referiu Mustapha.

Outra complicação é o facto de as vacinas serem produzidas apenas por um fabricante na China, por isso a disponibilidade é limitada e os custos são elevados, fora que precisam de ser mantidas a uma temperatura entre os dois e os oito graus celsius, o que, durante a deslocação para zonas mais remotas, pode nem sempre ser garantido, adiantou.

A vacina requer três doses, por isso a campanha decorrerá até junho de 2024.

Os MSF pretendem vacinar completamente 12.776 mulheres e raparigas com idades entre os 16 e os 45 anos.

Nesta região, as inundações dos últimos anos complicaram a vida da população local. Houve destruição de colheitas, gado afogado e um aumento dos casos de malária, porque as águas das cheias não recuaram “e as poças de água estagnada criaram o terreno perfeito para a reprodução dos mosquitos”, segundo os MSF.

Ao mesmo tempo, os casos de subnutrição aumentaram, uma vez que as pessoas tiveram de alterar as suas dietas, nomeadamente através da pesca ou recorrendo à ingestão de nenúfares para sobreviver, referiram os MSF.

Os MSF pedem que sejam tomadas medidas para melhorar as condições de água e saneamento em Old Fangak, como a implementação de instalações adequadas de esgoto e saneamento, casas de banho, sistemas de eliminação de resíduos e perfuração de poços para garantir a disponibilidade de água potável.

LUSA/HN

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